Quem nunca se perguntou o que desejaria, caso o lendário Gênio da Lâmpada lhe concedesse os famosos três pedidos? Extraído do conto Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, da célebre coletânea As Mil e Uma Noites, esse personagem — dotado de poderes ilimitados e capaz de transformar a realidade num piscar de olhos — tem alimentado a imaginação de milhões de leitores ao longo dos séculos.
Pois bem, dias atrás me peguei refletindo sobre o curioso antagonismo entre esse personagem e outro, de carne e osso: o inglês Humphry Davy, um dos cientistas mais notáveis do início do século XIX. Davy foi o primeiro a demonstrar a produção de luz elétrica ao ligar dois fios de carbono a uma bateria, gerando um arco luminoso intenso — base do que hoje chamamos de “luz de arco” — e criando, assim, a primeira lâmpada elétrica. Um é o gênio da lâmpada da realidade, que estudou as leis físicas e químicas para iluminar o mundo; o outro é o gênio da lâmpada da ilusão, que transforma tudo com um simples estalar de dedos.
É sabido que, décadas mais tarde, Thomas Edison aperfeiçoaria essa descoberta, desenvolvendo uma versão prática, confiável e comercial, mais próxima da lâmpada que usamos atualmente.
Essa dualidade nos leva a pensar em dois mundos: um quimérico e outro real. No mundo quimérico, tudo é possível, justamente porque não há leis que o governem. Já o mundo real é regido por uma ordem precisa – o que a Logosofia, ciência que estudo, denomina “leis universais”.
A Logosofia ensina que a mentira é
o nada que, caprichosa e obstinadamente, pretende existir à margem da Criação. (Coletânea da Revista Logosofia Tomo I, 224).
Esse axioma, ao mesmo tempo profundo e hermético, me leva a refletir sobre a existência de uma única e verdadeira realidade: a Criação.
A Criação segue um processo ordenado, regido por leis que a sustentam. Parte desse processo já se cumpriu, outra está em curso, e o restante ainda se realizará. O “nada”, por sua vez, representa tudo aquilo que não pode existir, justamente por se opor a essas leis fundamentais.
Tomemos como exemplo Dumbo, famoso personagem da Disney: um elefante que voa graças às suas orelhas desproporcionalmente grandes, como se fossem asas. Mas isso acontece apenas no universo do desenho animado. Na realidade, um animal com aquela exata anatomia jamais conseguiria voar.
Uma criança, ainda alheia às leis da física e da biologia, pode até acreditar nessa possibilidade. Para um adulto, entretanto, a ideia é inaceitável. Pode-se até tentar sofisticar a explicação, atribuindo ao personagem características mais plausíveis. Poderíamos dizer, por exemplo, que Dumbo voa não apenas por causa das orelhas, mas porque sua estrutura óssea é extraordinariamente leve, ou que a frequência com que bate as asas compensa sua deficiência aerodinâmica. Ainda assim, tudo isso não passaria de uma tentativa caprichosa — e obstinada — de prolongar a existência de uma fantasia irrealizável.
Para evoluirmos como seres humanos, tenho compreendido que é necessário eliminar em nós a tendência de esperar pelo Gênio da Lâmpada — ou de acreditar que basta pedir, e Deus, o Universo, ou seja lá o que for, irá conceder. As leis universais são imutáveis — e não poderiam ser de outro modo. Os milagres, por definição, são acontecimentos que prescindem dessas leis. Mas a realidade, em sua ordem e coerência, me parece muito mais formosa. Se desejamos realmente evoluir, é com ela — e não contra ela — que devemos aprender a atuar.
E a beleza dessa realidade se revela não em eventos sobrenaturais, mas nos fatos mais vastos e silenciosos que nos cercam. Foi o que me ocorreu outro dia, antes de dormir. Em vez de pensar nas obrigações do dia seguinte, fiz um pacto comigo mesmo: deixaria a minha mente vagar pelo universo.
De olhos fechados, imaginei o céu noturno e me dei conta de que cada estrela que vemos é, na verdade, um sol – um sol completo, talvez com planetas ao redor e histórias acontecendo agora. E o que nos chega dessas estrelas? Uma migalha de luz e calor. Um punhado de fótons viajantes, disparados das profundezas de reações atômicas violentas, que cruzaram anos-luz de escuridão para tocarem, por um instante, a nossa pele.
É fascinante pensar que, no nosso primeiro contato com a luz natural — e em todos os momentos seguintes — somos atravessados por fótons vindos não só do nosso sol, mas de sóis remotos, tão antigos que talvez já tenham se apagado.
À espera de que nossa inteligência as surpreenda, as leis universais atuam a todo instante. É a ciência universal convidando a ciência humana a decifrar seus segredos. Entre as faíscas da realidade e os feitiços da fantasia, que a simbólica lâmpada das nossas ideias ilumine sempre o caminho mais fascinante de todos: o do conhecimento.