A educação dos filhos é uma oportunidade das mais nobres que um ser humano pode ter em sua trajetória de vida. Não há dois seres iguais. Por isso, embora existam milhares de livros sobre educação e mesmo que se estude tudo sobre a psicologia da criança, é necessário compreender, em cada caso, o que cada um necessita em sua evolução. E isso é um grande desafio, que sempre me estimulou a aprender a ser uma melhor mãe e reunir os melhores elementos para contribuir com a educação desses seres.
Há tempos vivi a experiência que relato a seguir. Um de meus filhos, em suas travessuras de infância, vinha atuando de uma forma que, em minha percepção, necessitava de correção. Como o pensamento que se instalava em sua mente infantil tinha raízes profundas e vinha se intensificando, iniciei um trabalho para atuar de forma firme e sem dar trégua a esse pensamento. Após um período de observação, elaborei um plano de ação e, ao detectar a conduta mais uma vez, atuei com a seriedade de um adulto, explicando como aquele comportamento estava ferindo os sentimentos das pessoas envolvidas e que não poderia mais seguir assim.
No início, a criança me ouvia com certa burla, mas, após minha atuação firme, passou a demonstrar profunda atenção em seu olhar. Percebeu que o assunto era sério. Nos dias que se seguiram, queria muito que eu a desculpasse, e então eu lhe explicava que não poderia fazê-lo, apresentando os motivos.
A criança seguia sofrendo, e queria que eu a perdoasse pela falta cometida. Cerca de uma semana depois, comecei a pensar que havia exagerado na minha atuação. Revisei os passos, planejados com cuidado e não feitos ao acaso, e analisei se tinha incutido temor ou usado alguma ameaça. Contudo, encontrei apenas firmeza e explicação em minha conduta.
Entretanto, um pensamento me sugeriu que talvez fosse melhor, para a sua educação, rever minha atitude e perdoá-la, já que sofria há dias. Estava quase cedendo quando percebi que a dificuldade estava em mim, na avaliação do sofrimento de quem havia errado. Não seria o sofrimento um mecanismo para que o ser reconheça que está infringindo as leis? Então compreendi o que estaria fazendo se perdoasse a criança por um ato grave cometido contra outro ser: estaria considerando que esse ser tão especial não é capaz de superar-se; estaria eliminando a possibilidade de superação porque já estaria perdoado; estaria, sem querer, atrofiando sua mente ao fazê-lo acreditar que não precisa superar-se; estaria assumindo para mim o papel de redentora de seus erros; estaria impedindo a ação corretora da Lei de Evolução; estaria bloqueando seu caminho para buscar o equilíbrio em seus atos e aprender a praticar o bem – entre tantos outros aspectos.
Entretanto, diante do sofrimento da criança, era necessário lhe oferecer algum elemento que, com serenidade, a ajudasse a buscar a superação. Essa criança sempre quis ser boa, sempre quis acertar, e impressionou-me ver o quanto sua mente ficou paralisada ao compreender o mal cometido.
Então recordei um recurso apresentado em reuniões de estudos logosóficos para pais. Mostrei dois copos com água limpa e pingamos uma gota de tinta azul em um deles. Perguntei como poderia fazer para que aquele copo voltasse a ter água limpa. Ela pensou e respondeu que bastaria jogar toda a água fora e encher novamente. Refleti com ela: se o copo representasse sua vida, você gostaria de jogar tudo fora e recomeçar, sem os vínculos com a mamãe e o papai, sem tudo o que já conhece? Ela concordou que não, mas não conseguia imaginar uma maneira de voltar a ter a água limpa.
Então a deixei com essas reflexões por alguns dias. Quando retomamos o assunto, a situação continuava a mesma. Comecei a ajudá-la a refletir: e se fôssemos acrescentando gotas de água limpa, poderíamos um dia limpar essa água? Ela respondeu que sim, mas disse que levaria muito tempo e que seria muito difícil.
Expliquei que, na vida, cometer um erro é como uma gota de tinta azul em água limpa: a água se turva, mas pode ser purificada. Para isso, precisamos fazer o contrário do que se fez. Se fizemos algo errado, devemos realizar dois acertos, buscando restaurar o equilíbrio. Como seu erro envolvia outro ser, ela ficou reflexiva, analisando os copos e adicionando gotas de água limpa com um conta-gotas.
Depois de um tempo, ela perguntou se, ao começar a tratar o outro de forma diferente, poderia apagar o que havia feito. Respondi que sim, mas que isso dependia de sua própria conduta e da escolha de ter um novo comportamento.
O sofrimento foi substituído por uma ação que a deixava feliz e lhe permitia recuperar sua própria dignidade. Nesse processo, ela aprendia a construir o bem em si mesma, sem depender do meu perdão, pois era capaz de redimir-se diante do outro, de si mesma e de Deus.
