A impaciência pode ser vista como uma manifestação da tensão entre o presente e o futuro. Ela surge quando o desejo de controle e a busca por realização imediata se deparam com a distância imposta pelo tempo e pelas circunstâncias. Na raiz da impaciência, está a insatisfação com o aqui e com o agora.
Quando me mudei para Lavras, tive contato com uma realidade totalmente diferente de tudo que já tinha vivido. O mundo acadêmico, as pessoas diferentes e o primeiro contato com a Logosofia foram algumas das novidades com as quais me deparei. Enquanto vivi essas experiências, percebi que nada me causava mais entusiasmo do que me colocar no lugar dos meus professores. Atingir a categoria mais elevada da carreira docente universitária, tornando-me professor titular no ensino superior, passou a ser o meu maior objetivo.
O sentimento que me impulsiona a conquistar essa posição profissional é o desejo de dar orgulho à minha avó e minha mãe, que elas sempre priorizaram minha criação, além de querer deixar uma herança para gerações futuras. Desde então, venho capacitando-me para isso, estudando de forma intensa e fortalecendo meu vínculo com outras pessoas da área. Tudo parecia ótimo, não é? Aspirações genuínas de crescimento e prosperidade, movidos por um sentimento puro de gratidão. O problema é que essa aspiração foi, aos poucos, transformando-se em uma obsessão, dando origem a inúmeros pensamentos de temor, pressa e angústia:
E se eu demorar demais?
E se minha mãe e minha avó não estiverem aqui para ver?
Até quando eu vou ter que esperar para viver essa realidade?
No período em que vivia essa nova realidade no mundo acadêmico, tive a oportunidade de conhecer a Logosofia. E foi através dos estudos logosóficos que consegui compreender a realidade dos pensamentos e identificar alguns desacertos. A Logosofia ensina que os pensamentos negativos podem ser comparados a deficiências psicológicas, que exercem forte influência sobre a vontade do indivíduo. Dessa forma, pude identificar que era exatamente assim que a impaciência manifestava-se em mim.
Tenho compreendido que, tão importante quanto deixar uma herança na Terra, é observar os valores que acrescento à minha própria herança individual enquanto construo esse futuro.
González Pecotche nos ensina a trocar o temor pelo valor.
Por que temer frente às adversidades quando se pode superá-las com valentia?
Em um de seus livros, ele ensina:
A alegria do triunfo jamais poderia ser experimentada se não existisse a luta, que é o que determina a oportunidade de vencer.
Minha conclusão sobre essas reflexões é que a verdadeira sabedoria, talvez, esteja em aprender a caminhar ao lado do tempo, ao invés de tentar vencê-lo. Como fazer isso, então? Tenho compreendido que todo ser é uma sucessão de seres. Logo, o que sou hoje é resultado do que fiz ontem, e serei amanhã o resultado do que eu fizer hoje. Por isso, preciso utilizar bem o presente para que o meu ser do futuro não lamente o meu ser do passado.
Será que a modernidade nos tornou mais impacientes?
A velocidade com que a informação é transmitida traz uma série de benefícios, mas também de malefícios. Ideologias espalham-se mais rapidamente, comparações indevidas com outros seres e objetivos materiais distanciam-se daqueles que realmente deveriam ser buscados. Em resumo, vemos uma propagação cada vez maior de um mundo fictício. Permanecer nessa ilusão é fornecer os recursos necessários para que a impaciência atue, uma vez que não se busca a verdadeira compreensão da realidade.
A busca por compreender a realidade da Criação oferece uma nova perspectiva sobre o mundo e sobre o nosso ambiente interno. Ao evitarmos o mundo fictício, circunstancial e instável, aproximamo-nos do mundo real, no qual somos capazes de perceber que atitudes inconscientes geram uma série de adversidades.
González Pecotche, autor da Logosofia, ensina a colocar os problemas dentro da vida, e não a vida dentro dos problemas. Essa atitude perante as dificuldades nos dá forças para poder superá-las e prosseguir com a nossa caminhada rumo a um futuro mais feliz, já que a magnitude dessa caminhada é infinitamente maior do que qualquer adversidade cotidiana. Quantas vezes me observei em estados de melancolia ou frustração por não conseguir fazer tanto quanto gostaria. O que sempre me traz conforto é lembrar que faço parte de algo muito maior, e que as coisas na vida acontecem mediante processos, como a germinação de uma semente ou a metamorfose de uma borboleta.
Sabemos que a impaciência é frequentemente resultado da falta de controle que o indivíduo sente sobre as situações em que vive. Como podemos evitar a impaciência enquanto ainda não temos domínio completo do conhecimento em todas as áreas em que estamos inseridos?
Pecotche nos ensina:
Dissemos que a paciência tem que ser ativa, e a isto adicionaremos que, para ser ativa, ela requer que se estabeleça uma ordem no domínio das realizações, já que ao forjamento de um plano deve-se seguir a condução paciente e inteligente do esforço. A paciência terá de acompanhar o ser até o resultado final, pois deve ser a força ativa que sustenta o empenho até sua culminação.
Uma forma que encontrei atualmente para praticar essa paciência inteligente é sempre andar com um livro na mochila. Quando vou para casa, por exemplo, preciso pegar o trem, e a viagem demora alguns minutos valiosos. Nesse tempo, em vez de ficar ocioso ou com a mente divagando, aproveito para absorver novos ensinamentos.
Quais outros exemplos podemos encontrar de paciência inteligente? O exemplo do próprio Criador, ao definir processos que levaram milhões de anos até resultar na realidade que temos hoje, seria um caso de paciência inteligente? Ou seria ao criar o homem e confiar a ele a missão de evoluir, sabendo que isso exigiria tempo e perseverança?
Vou deixar um último ensinamento que me toca profundamente meu interno e me inspirou muito durante meus estudos. Ele é a base de algumas reflexões que compartilhei aqui e o levarei para a vida.
Referi-me, entre outras coisas, à paciência, como um dos principais agentes que intervêm na execução de toda obra. Quero expressar algo mais a respeito: considero a paciência a irmã do tempo, ela vive e confia nele, e este a premia constantemente por ser uma virtude que beneficia em alto grau o homem que sabe cultivá-la e não esquece quão grande é a paciência de Deus, que a todos tolera, ensina, corrige e modela, sem alterar jamais sua sublime serenidade.