Minha mãe contou-me que, quando era ainda adolescente, viveu a seguinte experiência: Sua irmã mais velha tinha ido ao cinema com o namorado, sem a permissão do pai delas — meu avô. Isso, naquela época, anos 40, era muito desaprovável e implicava sofrer reprimendas do poder paterno. Meu avô, ao perceber a iniciativa da filha, trancou a porta de casa, para poder abri-la pessoalmente quando ela chegasse. Minha mãe ficou na sala e, ao perceber a chegada da irmã, ouviu sua voz pedindo através da fresta da porta: “Abre a porta, eu ‘tô te vendo, abre…” Minha mãe, sabendo que o pai estava só esperando por isso, ficou imóvel na poltrona. E a irmã insistindo: “Abre a porta, abre …Eu ‘tô te vendo, antipática…” Meu avô então abriu a porta e não teve dúvidas em reprimir e castigá-la pela atitude que considerava desrespeitosa.
O que ficou desse episódio no imaginário da família, entretanto, foi a expressão de minha tia: “Eu ‘tô te vendo, antipática….”
Por quê consideramos alguém antipático? Parece-me que os seres e as coisas, de modo geral, dividem-se nessas duas categorias: simpáticos e antipáticos. Seres e coisas pelos quais somos atraídos ou que causam repulsa e deles nos afastamos.
Por que os amigos que fazemos na infância e na adolescência costumam perdurar ao longo dos anos? Quando encontramos esses amigos, comprovamos que a mesma simpatia que nos aproximou naquela época persiste, fortalecendo ainda mais nosso vínculo de amizade.
Dá a impressão de que na infância e adolescência somos mais naturais e de que nossas atitudes e comportamentos são movidos por sugestões e causas mais internas do que externas. As tradições, os preconceitos e extremismos impregnados de violência, que dominam nossa cultura hoje em dia, não têm tanta força na fase da infância. O pequeno ser que já fomos um dia, essa criança interior, inspirava simpatia; atraía e era atraído pelos semelhantes. As amizades estabeleciam-se com mais naturalidade e frequência, já que elas são fundamentadas na simpatia, no respeito e na confiança que inspiramos nos demais.
A simpatia é uma poderosa força de atração e uma fonte geradora de afeto, representando uma parte do amor da qual já temos consciência.
No estudo da física e da termodinâmica, aprendemos que existem duas forças no universo: a entropia, que mede a desordem de um sistema, e a entalpia, que mede a quantidade de energia de um sistema. Se um sistema é fechado, sem conexão com outros, ele tende a aumentar sua entropia, ou seja, sua desordem, e a diminuir ou perder toda a energia, tendendo ao caos. Num sistema aberto, com muitas conexões, isso é mais difícil de acontecer. Então, se tomarmos esses conceitos da termodinâmica como analogia, a simpatia seria uma força contrária à desagregação e à desordem. Seria como que a alavanca da própria vida, que requer uma enorme quantidade de energia para manter sua organização, sua ordem e seu equilíbrio intactos —
sua sintropia.
Assim como no mundo físico, existem no mundo metafísico — mundo das idéias e concepções superiores — forças que mantêm o equilíbrio e a ordem dos movimentos. A simpatia é uma delas, ajudando-nos a manter nossas amizades duradouras e eternas.