Era domingo de verão. Eu passeava na orla da praia com meu marido e meu filho. Fazia muito calor, já era quase meio-dia.
Meu filho adora animais e nos fez observar os cachorros queimando as patas no asfalto. Levantavam suas patas como se não conseguissem bem apoiá-las no chão. Muito indignado, atribuindo à negligência dos donos me disse: “viu que maldade fazem com esses animais?”
Unindo esse episódio a algumas reflexões que eu andava fazendo, respondi que aquilo não era por maldade. As pessoas não sabiam. Ele ficou muito surpreso: “Como não sabiam? Todos sabem que não é hora de passear com cachorros nesse sol de verão no asfalto quente.”
Com muita convicção, sugeri que ele fosse avisar as pessoas e que observasse suas reações. Imediatamente recuou alguns poucos passos e foi conversar com uma senhora que tinha seu cachorrinho ao lado. Era um poodle branco.
Observando a cena, vi a senhora pegar rapidamente seu cachorro no colo e o acariciar muito arrependida da sua distração. Aquela senhora sabia que o asfalto é quente ao meio-dia. Sabia que a planta das patas do seu cachorrinho é fina. Mas não soube ligar uma coisa à outra.
Mais confiante à medida que andava, meu filho alertava as pessoas que estavam paradas com seus cães e todos tinham a mesma reação de surpresa e arrependimento.
Se diante de situações tão simples não se sabe unir os conhecimentos, ou até mesmo informações básicas, como fazer em situações mais complexas da vida? Quanta frustração se sente quando, ao querer atuar bem, os conhecimentos fogem na hora H? Não se sabe como atuar!
Não dispor dos conhecimentos quando se precisa não é o mesmo que não os ter?
E quando se diz depois de uma atitude: “Eu sabia que ia dar nisso! Eu sabia!” Era a hora de se perguntar: “Se sabe, por que erra?” Onde estão todos os conhecimentos adquiridos ao longo da vida? De que adianta ter conhecimentos para não se recordar deles, não os colocar em prática e, principalmente, não os conectar à própria vida?
Além dos conhecimentos, o ser humano possui um potencial dentro de si que não consegue usar a seu favor. Possui um mundo interior gigantesco que lhe parece não estar disponível.
Quando se diz: “SE LIGA!” é como se houvesse um circuito pronto para funcionar, mas não se conecta à tomada. O ser continua desligado!
Aprendo com González Pecotche – criador da Logosofia – que essa tomada, essa fonte de energia é a consciência, segundo ele: “a única capaz de mover todo o mecanismo psicológico humano”…
Então, quando falo em consciência, não me refiro apenas àquela manifestação interna que acusa se uma atitude é boa ou ruim. A consciência é muito mais do que isso. Ela é capaz de atuar antes mesmo do erro. Para González Pecotche: “(…) é a essência viva dos conhecimentos que a integram“, e quanto mais conhecimento se assimila, maior é a atitude consciente na hora certa.
Quando penso no conteúdo da vida, penso no quanto ainda preciso aprender e na consciência que preciso ter para utilizar adequadamente os meus próprios conhecimentos. Porque a vida sem consciência é vida de pouco conteúdo, pouca luz. É vida descontinuada e desconexa.