Afinal, quem não quer ser livre? 

Mas o que é a liberdade? 

Prerrogativa tão inerente ao ser humano, a liberdade parece fazer parte da sua própria natureza. Todavia, o fato de ser uma característica inata não faz com que sua conquista seja automática. Depende de cada um que ela seja mais ampla ou mais restrita. 

Em razão do frequente contato com a ciência do Direito, os primeiros elementos que surgem na minha mente acerca desse tema são: liberdade de expressão, de locomoção, de associação, de reunião, de imprensa. 

Indo um pouco além, recordo imagens mais próximas à minha realidade: lugares que conheci, coisas que falei, expressei, realizei etc. 

Esses exemplos não deixam de representar a liberdade, mas são mais voltados ao externo; e, pensando bem, nem sempre condizem com o conceito de liberdade que venho ampliando por meio dos estudos logosóficos. 

Por exemplo, recordei situações em que, com base em uma suposta liberdade de expressão, falei coisas das quais me arrependi no segundo seguinte. Quem nunca pediu desculpas seguidas do famoso “foi sem querer”? Afinal, o que me moveu a dizer o que não devia ou não queria, com base numa falsa liberdade de expressão? Um pensamento, talvez? 

González Pecotche, autor da Logosofia, conceitua pensamentos como entidades psicológicas com vida própria que habitam a nossa mente. Apesar de não os vermos com os olhos físicos, é muito clara a trajetória e as marcas que vão deixando em nossa vida. O resultado pode, ou não, estar de acordo com o que verdadeiramente queremos, dependendo da capacidade que cada um tem de reconhecer e manejar os pensamentos que estão na mente. 

Na adolescência, apesar de ser, de certa forma, livre para sair de casa, não foram poucas as vezes em que me perguntei: por que saí mesmo? E a resposta foi: por influência de amigos, para agradar o outro, para me sentir parte da turma. E o respeito que devo às vontades do meu próprio ser? Não importa? 

Às vezes seguimos correntes políticas, ideológicas ou religiosas, sob o pretexto de uma falsa liberdade de escolha, quando, na verdade, existe o temor de não integrar a multidão anônima, o temor do que os outros vão pensar ou até a comodidade de aceitar conclusões já prontas. 

Nesses momentos, cremos agir conforme a nossa própria vontade, mas, de fato, estamos à mercê de pensamentos, crenças, correntes e tradições que movem as nossas atitudes, mesmo que alheias à nossa vontade. 

Tenho compreendido que essa não é a verdadeira liberdade. Esta começa no íntimo de cada um. Somos nós que criamos a liberdade interna à medida que a merecemos; não é o outro que nos concede. 

Além disso, ao contrário do que dizem por aí, penso que a liberdade não combina com ausência de parâmetro ou critério, nem com rebeldia ou irresponsabilidade. Ela caminha em paralelo com o conhecimento, a responsabilidade e até a fidelidade. Sem esse tripé, eu me torno alvo fácil da falsa liberdade. É esse o conceito que tenho experimentado. 

Tenho aprendido a ser livre e independente de preconceitos, ideias alheias, do “que dirão” e também a não fazer, pensar ou dizer o que não devo. 

De acordo com a Logosofia, “É inegável que todo ser humano possui, por natureza, o privilégio do livre-arbítrio, mas, para o exercer, necessita do conhecimento, a fim de poder fazer uso da liberdade que ele lhe confere para seu bem e sem prejudicar a dos demais.” 

Quem sou eu? Do que eu gosto? O que condiz com a minha modalidade, com a minha individualidade, com o meu querer, com meu pensar e sentir? Colocar-me frente a mim mesma é um desafio, pois requer um estudo sincero da minha própria psicologia. 

Com isso, aprendo a distinguir o bem do mal, a verdade do erro, a realidade da ilusão e, por meio da edificação desses parâmetros, vou ampliando o meu raio de liberdade. 

Por exemplo, na medida em que eu estudo e conheço a atuação das Leis Universais (do tempo, de adaptação, de evolução etc.), que regem tudo de forma inexorável e influem diretamente na minha vida, consigo colocar-me sob o amparo dessas Leis, atuando de modo mais amplo e acertado nos campos experimentais da minha vida. 

É como entrar num jogo sabendo como se deve jogar. 

Eu pratico tênis e já observei que, ao conhecer as regras e a dinâmica do esporte, as possibilidades de atuar livre e ativamente em uma partida ampliam-se consideravelmente. É essa a prerrogativa que temos perante a própria vida. 

E o que tem a ver liberdade com fidelidade? Apesar de parecer contraditório, tenho compreendido que a manifestação da liberdade deve refletir os conceitos, pensamentos e sentimentos que venho cultivando, como uma relação de fidelidade comigo mesma. 

Na atual geração, é comum entre os jovens a resistência em não firmar relacionamentos sob o pretexto de aproveitar a vida ou de não atrapalhar outros aspectos como o sucesso na carreira profissional, como se fossem elementos totalmente opostos e inconciliáveis. 

O namoro é uma riquíssima experiência para o cultivo da fidelidade (e também da liberdade na formação de cada individualidade), mas a Logosofia amplia esse conceito para além desse campo experimental. É nesse sentido que ele se relaciona com a liberdade: ser livre é, mesmo diante da confusão mental no mundo, ser fiel a mim mesma, à minha natureza espiritual, à minha vontade de ser melhor, aos meus pensamentos, sentimentos, propósitos e aos conceitos que tenho formado. 

Nem sempre a liberdade individual corresponde ao conceito alheio. Por isso, é preciso muito valor e muita valentia para a defender. Muitas vezes, vejo-me enfrentando verdadeiras batalhas internas rumo a essa conquista. Mas, afinal, quantas vezes ao longo da história o ser humano precisou ser valente, enfrentando verdadeiras lutas, para conquistar a liberdade? 

Vencida a batalha, podemos encontrar amparo na confiança de saber onde se firmar e na alegria de não trair a si mesmo. 

Em conclusão, tenho entendido que a liberdade não se limita a andar com as próprias pernas mundo afora, nem a se manifestar e atuar da forma mais ampla, fazendo tudo aquilo que eu acho que quero e posso fazer. 

A verdadeira liberdade está em atuar conscientemente, movida pelos recursos que possuo, externando de forma real e fiel uma conduta elevada para nortear a minha vida rumo ao destino que eu quero viver.