Equilibrando a paciência
Você sabe o que é slackline? Veja como a autora relaciona essa atividade física com o exercício da virtude da paciência.
Recentemente, apareceu em minhas redes sociais uma “ex-amiga” da época da adolescência. Não me recordo em que exato momento aquele vínculo tão forte rompeu-se, mas hoje compreendo que foi uma perda gradual do meu bem-estar em relação a ela. Uma mágoa, e até certo rancor, perduraram em mim por um tempo, e recordo que não a perdoei. Passadas quase três décadas, pergunto-me: qual tinha sido mesmo a razão de ter de lhe perdoar?
Ah, se eu tivesse, naquela época, tido contato com os elementos logosóficos, que tanto valor dão a minha vida, talvez a nossa amizade tivesse sido guiada pelo ternário: simpatia, confiança e respeito. Teria sido poupada dos ataques das nossas deficiências e defendida com toda a força que esse sentimento merece.
Aprendi com a Logosofia que a amizade é um sentimento de essência superior, que nos eleva e dignifica, tornando-nos mais generosos, mais humanos e mais felizes. É na amizade que cultivamos sentimentos nobres como lealdade, confiança, respeito, gratidão, discrição e afeto. Não basta conquistar uma amizade; é necessário mantê-la, cuidá-la e elevá-la. Um esforço recíproco para que o sentimento que a sustenta permaneça forte, resistindo ao tempo e à distância.
Procurei recordar e identificar as causas da separação que ocorreu entre nós e que, ainda hoje, não consigo superar. Percebi que minha posição interna estava fortemente associada ao rancor e ao amor-próprio. Deixar simplesmente para trás determinada situação, na qual, a meu ver, eu estava coberta de razão, sem mostrar o quanto a outra pessoa estava equivocada, era algo difícil de realizar. Observo que o perdão, comumente, é concedido por quem se sente superior ao outro. Quando a pessoa está na posição de vir a pedi-lo, deveria haver uma preocupação genuína em tentar redimir-se, o que, infelizmente, não observo na maioria dos casos e tampouco enxergava em mim. O que restava era apenas um arrependimento tardio e sem valor.
Por que seria então necessário o perdão?
Buscando a lógica por trás desse conceito, observo que seria uma forma de me interessar pelo sentir dos demais, de ter a capacidade de não me incomodar com pequenas coisas sem importância, de compreender melhor as limitações das pessoas e as minhas próprias, tentando superá-las. Além disso, envolve compreender melhor as lutas que cada um enfrenta. Atuar com os outros de maneira ativa, mas discreta ao mesmo tempo, ajudando-os a identificar o erro e a recolocar-se, é uma forma de ajudar e aprender ao mesmo tempo. No entanto, isso não é algo fácil, pois essa atuação deve brotar de um interesse genuíno sentido de fato pelo outro ser.
Com a Logosofia aprendi que existe uma relação direta entre o verdadeiro perdão e as Leis Universais, que são justas e rigorosas. Essas Leis nos concedem o tempo necessário para reparar nossas faltas, começando pelo reconhecimento delas e, em seguida, buscando corrigi-las. O verdadeiro perdão nasce da própria consciência, que, ao identificar o erro, permite-nos trabalhar internamente para poder modificá-lo. Quando qualquer erro é cometido, as Leis Universais respondem de diversas formas, proporcionando meios para corrigir nossas falhas. A redenção vem da prática do bem consciente, nem sempre possível em favor da mesma pessoa que prejudicamos. Já o perdão, no sentido de não guardar mágoa, deve ser praticado como uma forma de evitar que ressentimentos contaminem o vínculo entre os seres.
Quanto à minha “ex-amiga”, notei que ela e eu temos filhas da mesma idade. Quem sabe não seria possível uma aproximação? Talvez eu consiga resgatar aquele sentimento que um dia encheu meu coração de afeto e trouxe-me tantas alegrias. Passados tantos anos, penso que um pedido de perdão já não seja mais necessário, mas quem sabe, ao seguir meu coração, possamos recuperar a força de uma amizade que tanto bem nos fez um dia!