Outro dia, trabalhava em meu escritório quando o telefone tocou. Era um operador de telemarketing que queria me vender algo. Uma vez mais tive de explicar que eu não estava interessado no produto ou serviço que me era oferecido. Após desligar o telefone, eu me detive a pensar nas vezes em que perdi o meu tempo com esse tipo de telefonema por não conseguir esclarecer para a pessoa do outro lado da linha que não estava interessado no que ela queria me vender. Na tentativa de me ver livre desse assédio — que tem o inconveniente de nos interromper em nossas ocupações — fui ríspido com meu interlocutor. Porém, logo após desligar me senti incomodado pela minha atitude. O que determinou essa sensação? Por que aquele comportamento alterou o meu estado de ânimo?
Possivelmente essa pergunta escaparia a muitos, que logo esqueceriam o ocorrido. Para mim, constituiu-se num motivo de investigação. É verdade que estamos sujeitos aos vaivéns do nosso ânimo muitas vezes ao dia. Antigamente isso me passava despercebido, mas comecei a ficar incomodado com essas alterações, já que diversas vezes a sensação interna não era boa por me sentir perdendo o controle.
A convivência é uma oportunidade de aprendizado. O ser humano tem muito a ganhar ao conviver com seus semelhantes. Contudo, existe uma realidade que se deve conhecer, para que essa convivência seja produtiva e enriquecedora.
Ao refletir sobre a convivência com os meus semelhantes, tenho entendido que é preciso compreender em que consiste essa convivência e também conhecer os fatores que incidem sobre ela e que influem em nossas relações. Dois desses fatores são os ambientes e os pensamentos ali presentes.
Eu não tinha noção do que eram os pensamentos até tomar contato com a definição apresentada pela Logosofia. A Logosofia os define como entidades autônomas que existem em nossas mentes e que podem passar de uma mente a outra com extrema facilidade. O exemplo mais simples que vejo dessa realidade é quando alguém toca a buzina no trânsito parado, ensejando uma orquestra de outras buzinas que acompanharão o movimento daquele pensamento, sem que na maioria das vezes o motorista quisesse mesmo buzinar.
Nos tempos atuais, os telefonemas são frequentes e interrompem nossas tarefas, nossas reuniões, e nem no cinema nos deixam em paz. Não há como saber quem está do outro lado da linha até atendermos o telefone. Quando eu atendo a um telefonema e ouço aquela saudação ensaiada do operador de telemarketing, experimento uma profunda irritação. Investigando essa reação de meu temperamento, descobri que essa alteração de ânimo é provocada por pensamentos que causam os estados de irritabilidade, de impaciência ou de intolerância.
Pobre operador de telemarketing que não conhece a realidade dos pensamentos! Ele próprio se torna vítima deles. Ao receber a resposta lacônica e até ríspida de seus clientes, seus pensamentos entram em ebulição também, mas o profissionalismo contém seus pensamentos — sabe-se lá por quanto tempo. Ouvi dizer que são poucos os que resistem nesse tipo de trabalho.
E nós, clientes, conhecendo a ação dos pensamentos, vigiaremos os que nos fazem impacientes, ríspidos e intolerantes, para que não alterem o nosso estado de ânimo, nem durante e nem depois da ligação. Nada nos impede de sermos claros e objetivos com o nosso interlocutor. Já reparei que a objetividade e a sinceridade são armas poderosas para convencer ao operador de que ele perderá o tempo irremediavelmente se quiser insistir em vender o seu produto ou serviço. Eventualmente, eu percebo que o serviço pode ser interessante para mim; nesses casos, eu lhe proponho que me ligue passados alguns dias e em um determinado horário.
Tudo se resolve de maneira muito mais rápida e prazerosa e quando se conhece os pensamentos. Ao dominá-los, podemos manter a serenidade em nossa mente e isso beneficia a nós e a quem está do outro lado da linha. Como dito antes, o homem é um ser social e deve saber que os pensamentos influenciam direta e efetivamente na convivência; sendo assim, é fundamental conseguir identificá-los dentro de si e perceber sua ação nos demais. Isso o ajuda a prevenir-se contra as situações que resultam em aborrecimentos e tiram a paz de espírito.