O céu, com seu anil profundo, sempre foi uma fonte de deslumbramento.
Ele passava horas olhando tudo que se movia no infinito azul e, muitas vezes se projetava naquelas alturas fazendo o mesmo percurso longo e vagaroso dos pássaros que voavam planando soberanos naqueles espaços.
Por que voo curto de passarinho de galho em galho não lhe interessava muito?
Qualquer barulho de motor lhe tirava a atenção e o fazia sair correndo para fora de casa para ver o avião da vez.
Assim tudo que se movia livremente no espaço azul lhe causava um enorme interesse.
A historia dos foguetes que iam à lua o fascinava tanto, que fazia coleção das reportagens e, principalmente, das fotos daqueles homens que iam além do céu azul.
Como seria não sentir o próprio peso?
Ver a terra de longe e na imensidão do universo era algo distante, mas ao mesmo tempo, curiosamente, muito próximo.
Queria a explicação de tudo, mas já tinha algumas respostas que ele mesmo ainda não entendia.
O que tanto lhe atraía no voo?
O menino prosseguia sua jornada rumo ao adulto que seria um dia sem abandonar o encantamento pela liberdade de sair da terra e alcançar o infinito.
Quantos sonhos lhe faziam acalmar as ânsias por voar lhe mostrando que existe uma possibilidade real de não ficar preso à terra de maneira definitiva.
Queria ser piloto pois, desde cedo, os seus principais brinquedos sempre tiveram asas.
Mesmo nos dias de tormenta, quando não era possível ver o céu azul e tinha que se abrigar da tempestade, o menino que voava era protegido pelas asas do seu próprio espírito que lhe acariciava a face e embalava seu sono até a próxima alvorada de luz que sempre aparecia no horizonte.
As primeiras lutas com a natureza instintiva foram suavizadas com a possibilidade de encontrar a fórmula mágica do voo metafísico.
O menino – espírito encontrou as asas que lhe permitiriam voar livremente pela imensidão da criação sem medo de se perder.
Finalmente, aquela sensação de aprisionamento à terra ficou para trás.
O menino que voava continuou no jovem e no adulto que o tempo, com sua lei inexorável, fizeram surgir.
Esse menino que tanto tem a ver com a vida livre do espírito não morre nunca.
Nele vibra a chama do eterno, pois guarda o segredo da vida superior na inocência de suas primeiras horas nesse mundo que escolheu viver.
Seu tempo era muito diferente do tempo do adulto. As horas pareciam dias e os dias anos porque em verdade se vivia no tempo eterno sem consciência disso.
O encontro do menino com o pensamento guia que lhe ensinou a voar foi o encontro de sua existência!
Bendita hora que ouviu o chamado para fazer parte dessa grande jornada épica às fontes da sabedoria eterna!
Quem sou eu afinal?
O menino que voava.