Desde a infância fui muito atraído pelos videogames e jogos de computador, mesmo quando eu ainda não tinha um.

Frequentava as casas de alguns amigos que tinham os aparelhos mais novos da época, e passávamos horas e horas jogando juntos nos fins de semana. Recordo-me da grande alegria que se manifestou em mim quando meu pai me deu de presente o meu primeiro videogame: um aparelho grandão, dos mais antigos, usado. Com ele, governei a vida de muitos personagens, conduzindo esses entes virtuais por muitas aventuras, perigos, lutas, corridas, derrotas e vitórias.

Alguns desses jogos eram lineares. Só havia um único caminho a seguir: para a direita, passando fase por fase, superando um obstáculo por vez. Parecia muito com a minha vida de criança e pré-adolescente: eu seguia as fases da escola, uma prova por vez, e as fases bônus que meus pais me davam, na forma de atividades extras no contraturno e nos fins de semana.

Mas havia outros jogos que não eram tão lineares. Com o personagem, eu podia andar pelos mundos virtuais. Passava horas recolhendo recursos, tinha que descobrir para onde ir e qual era a missão a ser cumprida. Até que o jogo chegava a um ponto em que ficava frustrante, agonizante.

  • Como devo proceder para passar dessa fase?
  • Onde devo ir?
  • Será que eu deveria ter conquistado algo anteriormente para poder avançar?
  • Será que meu personagem tem alguma habilidade importante que eu desconheço?
  • Será que entendi como se deve jogar?

O jogo da minha vida

Recordo-me claramente dessas inquietudes na fase da adolescência e início da juventude, quando comecei a ver que eu mesmo podia escolher por quais fases iria passar.

  • Qual curso técnico fazer?
  • Qual faculdade?
  • Quais amizades cultivar?
  • Qual namorada escolher?
  • Qual roupa vestir?

A vida tinha se tornado um jogo muito mais complexo do que antes parecia. Descobri que existiam outras formas de jogar, diferentes da que meus pais me haviam ensinado, e houve vezes em que quis jogar imitando meus amigos, os quais, por momentos, pareciam tão mais legais e felizes!

Quando comecei a estudar Logosofia, aprendi que existia um outro jogo, novo, incrível, revolucionário: o jogo dos pensamentos – e que acontece dentro da minha mente! Esses pensamentos são como os personagens do jogo virtual, e, portanto, cabe a mim governá-los. No entanto, descobri que muitas das vezes sou eu o governado.

Os pensamentos possuem vontade própria e me influenciam a jogar o jogo da minha vida de acordo com suas intenções. Toda vez que não paro para pensar, é como se eu passasse de jogador a personagem, governado pelos pensamentos, agindo no automático, inconsciente. E em quase todas as vezes em que isso ocorre, me arrependo depois de ter deixado que acontecesse.

Passei a observar o verdadeiro jogo dos tronos que já acontecia dentro de mim, mas que eu ignorava: pensamentos lutando entre si para imperar sobre minha vontade, sobre a forma como vivo. Velhas famílias de pensamentos, que estavam no poder do meu mundo interno há muito tempo, somente alternando-se entre si, mantendo a roda inconsciente girando lentamente.

Pensamentos que me sugeriam dar importância demais para o profissional se revezavam com os pensamentos de remorso sentimentalista, por não dar tanta atenção à família; outros, que direcionavam minha disciplina para as atividades físicas que envaidecem, alternavam-se com os que queriam usar todo o meu tempo livre para diversão, pois “eu já tinha trabalhado tanto…” E a roda continuava girando, sufocando lentamente quem deveria ser o principal jogador na minha vida: eu mesmo.

As regras do jogo que eu vejo

As inquietudes continuavam me acompanhando:

  • Será que estou pontuando no jogo da vida?
  • É assim que devo jogá-lo?
  • Por que permanece a sensação de que sempre há algo a mais a ser conquistado, um vazio que não é preenchido, uma última barrinha na tela que não sei como encher?
  • Será que estou cumprindo a missão da fase que estou vivendo?
  • Será que vai dar tempo de completar a missão?

Aprendi com a Logosofia que pontuo todas as vezes em que troco o pensamento de trabalhar mais tempo pelo de trabalhar com mais inteligência, para ter mais tempo para mim. Pontuo todas as vezes em que troco um pensamento intolerante por um conciliador, e por isso convivo melhor com a minha família. Pontuo todas as vezes em que uso minha disciplina internamente para vencer o jogo dos pensamentos, e quando uso meu tempo livre para estudar a mim mesmo. Pontuo, enfim, sempre que estou no governo de minha própria vida!

Toda vez que jogo um jogo muito bom, cativante, admiro a atenção que foi empregada em cada detalhe, cada mecanismo, cada movimento, cada pixel. É como se eu fosse, aos poucos, entendendo o que o criador do jogo queria que eu fizesse, pensasse e sentisse enquanto vivia aquela experiência.

Da mesma forma, todas as vezes em que observo a natureza, admiro a grandeza da diversidade de matizes que colorem o Universo, e do intrincado dispositivo natural que se encontra dentro da minha mente. É como se eu fosse, aos poucos, entendendo o que o Criador queria que eu fizesse ao colocar, dentro de mim, o mecanismo que me permite ser mais consciente.

E você? No grande jogo da sua vida, quem fará a próxima jogada?