Houve um tempo, em minha juventude, que eu acreditava que a pressa era amiga do tempo. Esse pensamento me levava a deixar tudo o que precisava fazer para última hora, pois eu correria e no minuto final tudo daria certo.
Recordo a correria para terminar o trabalho da faculdade, as tarefas de casa, chegar no horário combinado. Eu estava sempre atrasada, mas na última hora era só eu me apressar que venceria o tempo e tudo se acomodaria novamente.
E assim eu acreditava que se vivia a vida, acreditava que não havia outra forma de vivê-la e que a maioria das pessoas viviam assim, pois era uma característica comum a muitos.
Com o tempo a vida foi me exigindo algumas mudanças e o pensamento foi se apresentando de outras maneiras. Agora eu estava sempre procurando a chave da casa, do carro, o documento que necessitava, deixando as coisas para o dia seguinte, me arrumando de última hora… no final tudo dava certo. Mas sempre, em todas as situações vividas, ficava a sensação de que eu poderia ter feito melhor.
Com os estudos de Logosofia fui me advertindo o quão pernicioso era para minha vida mental, sensível e espiritual me deixar levar por pensamentos dessa índole. Fui descobrindo que os pensamentos formavam minha vida, minha maneira de ser e de estar no mundo. Descobri que podia modificar em mim essas características negativas, e principalmente, descobri que a vida não era para ser vivida dessa maneira.
Os estudos me permitiram tomar consciência da agitação interna que vivia, a qual me fazia correr o tempo todo e não tinha tempo algum para olhar e apreciar a paisagem que a vida ia tecendo ao meu redor. Mudar esse estado interno de agitação constante, foi um dos primeiros benefícios que o estudo de mim mesma, de minha psicologia, me proporcionou.
Orientada pelo ensinamento, fui identificando os pensamentos e os recursos que eu tinha para modificar a realidade vivida. Virei investigadora de meu interno, de mim mesma! Mapeei as consequências negativas que eles me causavam e criei pensamentos específicos para combater a causa da agitação – pensamentos desordenados atuando à margem de minha vontade.
Dei início então a uma ação própria, delineada por mim mesma de acordo com minhas características internas e orientações da Ciência Logosófica. Aos poucos as chaves não eram perdidas, os documentos eram bem guardados, as tarefas não ficavam para o ser de amanhã resolver e os horários eram cumpridos.
Para você, leitor, isso pode soar óbvio e simples de ser feito. Entretanto, vencer uma resistência interna, um hábito de muitos anos, de forma consciente, manejando a situação com lucidez mental, exige determinação, paciência inteligente, perseverança, constância, atenção… Não se trata aqui de vencer uma vez e esperar o próximo esquecimento, mas sim em aprender a mobilizar os recursos internos para atuar com antecipação, criando defesas mentais permanentes para estas situações. São muitos os recursos internos que temos que mobilizar para dominar um hábito negativo de nossa conduta.
E hoje, após alguns anos trabalhando para conquistar a paz interna, posso dizer com alegria que muito já conquistei! Diante de qualquer situação de apuro, que por vezes ainda vivo, consigo manter a calma necessária e buscar os recursos internos para observar, pensar, refletir e razoar – ações mentais indispensáveis para triunfar.
Você pode estar supondo que o pensamento foi eliminado. Não. Aprendi que “a fera não deve morrer, porque o triunfo não está em matá-la; é necessário que viva, mas em estado doméstico.”1 A agitação interna está sendo dominada com a poderosa arma do conhecimento! O pensamento sempre estará ali esperando um descuido meu, mas o conhecimento também estará sempre presente para fazer frente a ele.
E desta forma, com o estudo e a investigação das experiências vividas, vou apaziguando minha mente, vou colocando ordem no recinto interno e me libertando do ser que não quero mais ser.