Estava refletindo sobre um tema que me parece oportuno compartilhar com você. Não há nada de excepcional em se constatar que cada um dos seres humanos tem uma vida singular, concorda? Porém, o que me chamou a atenção em certo momento foi constatar que, mesmo dentro da nossa singularidade, há episódios comuns a todos que não deixam de propiciar, a cada um, uma condição particular de vida.

Explicando melhor, um desses momentos ocorreu quando, sem uma explicação clara, eu me peguei observando a mim mesmo. Como se eu fosse outra pessoa, ponderando sobre minha realidade de vida, sobre minha trajetória histórica, sobre meus valores, aspirações… e até mesmo minhas decepções, por que não?

Você já deve ter vivido um momento igual, não é mesmo? E já se perguntou o porquê disso ocorrer? Eu o fiz e cheguei a algumas conclusões muito interessantes, que motivaram a elaboração deste pequeno texto.

Além de nome, CPF e profissão, quem sou eu?

O que observei está relacionado com a sensação de ser muito mais do que uma data de nascimento, um CPF, um endereço ou um membro integrante de alguns grupos sociais como família, profissão, lazer, etc…

Vou explicar. Naturalmente, ter uma família, amigos, uma profissão e outros quesitos que propiciam segurança, alegria e disposição são fatores muito importantes para a condição humana. No entanto, o que observei, ou melhor, o que pressenti, foi que esses valores, esses elementos são apenas a ponta do iceberg.

Acompanhando a repercussão interna propiciada pelo que vivo, constato que há outro ser dentro de mim que me obedece em algumas coisas, porém, em outras, mostra–se muito arredio, quase impossível de ser controlado.

Nesse contexto, noto ainda, em vários episódios de vida, quantas coisas surpreendentes fui capaz de realizar — algumas muito boas, outras nem tanto —, a partir da vontade desse ser interior, desse outro “eu” que mora dentro de mim.

Podemos, de fato, estudarmos a nós mesmos?

Esta realidade me fez refletir sobre o que se passa comigo. Seria possível entender melhor sobre mim mesmo? Entender melhor sobre esses momentos em que parece que saio de mim e me contemplo como sendo outra pessoa?

Em determinado momento, depois de perceber que, por várias vezes, essa realidade se fazia presente em mim, surgiu uma importante pergunta: posso estudar a respeito de mim mesmo sem fazer um curso superior ou lançar mão de recursos mais complexos?

Pois então, como já afirmei, eis aqui o objetivo deste texto. Compartilhar com você uma feliz realidade. A de estar me investigando, a de efetivamente estar me estudando e, o mais interessante, aprimorando cada vez mais este ser interior que também expressa suas vontades, tem suas aspirações e influi no que vivo. Penso que esta é uma realidade presente em mim e em você também, que merece uma atenção muito especial: buscar conhecer melhor a si mesmo.

Sempre me inquietou a ausência de respostas concretas sobre como eu poderia aprender acerca de mim mesmo, ou onde encontraria recursos para me transformar em um investigador de mim mesmo. Com a realidade interna descrita, sempre me interessei por temas que me oferecessem possibilidades de responder a tais inquietações, sem, porém, obter êxito. Alguns ensaios feitos se mostravam inicialmente interessantes, no entanto, com o passar do tempo, os resultados não se mostravam tão alinhados com minhas expectativas.

Sem respostas sobre nós mesmos, o caminho é fazer perguntas

Atualmente, após quatro décadas de investigação sobre mim mesmo com base nos conhecimentos logosóficos, posso afirmar que já avancei significativamente na direção almejada.

Esta feliz realidade eu comprovo a cada dia que vivo, na construção de uma forma de ser mais conciliadora, vivendo a vida de forma mais ampla e mais fecunda. Comprovo esta realidade, também, no despertar de perguntas que, antes de iniciar estes estudos, nem suspeitava ser possível formular. E sigo constatando este avanço, principalmente na conquista de uma harmonia interna indescritível, que progride com base na conciliação entre o pensar e o sentir.

As conclusões a que se chega na vida, quando corroboradas com o que se vive, expressam uma compreensão básica que, a partir deste momento, direciona nossos atos. Você também pensa assim? Um aspecto que culminou em mim, relacionado com esta compreensão básica, está relacionado com o comportamento de um aluno, considerando que fui professor por quase 40 anos. Um ponto muito interessante é que um aluno que não entende um conteúdo não tem perguntas para fazer ao professor, nem tampouco a si mesmo. Já percebeu isso em você? Eu percebi isso em mim. Recordo que, quando era estudante, e o professor trazia um tema que estava muito além da minha capacidade de compreender, ele perguntava: “Entendeu? Tem alguma pergunta?” Eu me detinha em profundo silêncio. Recordando essa realidade, percebia que nada surgia. Foi aí que constatei o fato que acima descrevo como professor e que se expande para a vida como um todo.

Relato esta experiência, pois, no tocante ao conhecimento de mim mesmo, percebia que o tema sempre me interessava, porém não tinha a menor ideia de por onde começar. Até que um dia, já mantendo regularidade sobre os temas que me ofereciam condições de investigar a mim mesmo, surgiu a pergunta da minha existência: o que sobre mim mesmo eu conheço, quando conheço a mim mesmo? Como estudar sobre mim mesmo, a fim de identificar como sou formado psicológica e espiritualmente? Que relação os acontecimentos da minha vida têm com meu pensar e meu sentir?

Enfim, perguntas que começaram a aflorar quando comecei a entender melhor sobre os pensamentos, os sentimentos, o meu complexo psicológico e outros temas e conceitos muito importantes.

Poder fazer tais perguntas é um sinal de avanço no processo de autoconhecimento

Sei que estou tratando de um tema de muita complexidade. Tenho compreendido que se conhecer não está relacionado com olhar-se no espelho ou em uma fotografia e identificar-se. No entusiasmo gerado pelos conhecimentos neste sentido, certo dia, olhando-me no espelho, veio-me a seguinte reflexão: quem está aí animando esta estrutura física?

Concluindo, o que gostaria de compartilhar com você é que tenho nítido para mim que a possibilidade de realizar estas perguntas já é um grande avanço. Hoje, eu as formulo e as considero durante todos os meus dias. Nesse afazer, eu me percebo mais feliz, mais amplo, mais tolerante e com mais capacidade de entender o porquê de certas atuações minhas. Então, considerando a natureza de todo ser humano, busco neutralizar aquelas que me limitam e potencializar as que me oferecem a oportunidade de superação.

O “conhece a ti mesmo”, no meu caso, sofreu uma maravilhosa revolução com o aporte do saber logosófico na aspiração de caminhar em direção a mim mesmo; tenho comprovado, em cada momento que vivo, o que é afirmado por González Pecotche, e que abaixo transcrevo.

Tendo sido o homem equipado com o admirável sistema mental e os não menos importantes sistemas sensível e instintivo, que lhe permitem atuar livremente em dois imensos mundos, o físico e o metafísico, é lógico admitir que a essas prerrogativas tão belas e transcendentes que configuram o grande arcano da vida, se acrescente também a de redimir sua alma de todos os desacertos e faltas cometidos, fato que converte o homem em verdadeiro redentor de si mesmo.

 

Este conteúdo está no livro intitulado “O Mecanismo da Vida Consciente”, na página 117. Você pode ter acesso a este e outros livros de González Pecotche em https://logosofia.org.br/livros-e-artigos-do-autor/

Entenda mais sobre Autoconhecimento.