Passei da posição de achar que a sensibilidade era algo mais presente na natureza feminina e pouco afeita à natureza masculina para a posição atual de considerar que os sentimentos que conformam a sensibilidade são forças importantíssimas para trazer mais harmonia e felicidade para a minha vida.
Situações que vivia com familiares muito próximos me deixavam frequentemente aborrecido. Eram circunstâncias que se repetiam na convivência familiar – fatos sem grande importância que, pela insistência, me deixavam chateado, causavam um rebuliço mental e me levavam a agir de maneira áspera com eles, de forma totalmente desproporcional à relevância do ato em si.
Muitas vezes essas reações ficavam somente na minha mente, estragando o meu dia; outras vezes, porém, eram externadas e acabavam estragando também o dia deles. Muito desagradável!
Mas como isso podia ocorrer, se eram seres por quem eu nutria um afeto tão grande?! Como podia ferir um sentimento que me era tão grato?!
Esse conflito interno me chateava, até que, estudando os ensinamentos da Logosofia sobre tolerância e paciência, percebi que eu também poderia atuar mal, esquecer compromissos, ser negligente com determinadas obrigações etc. Ou seja, agir tal qual meus familiares, que eu criticava, mas certamente não iria gostar de ser repreendido por eles, como às vezes fazia.
Percebi que eu também cometia erros e que, se muitas vezes acertava, era porque estava me empenhando, com o auxílio da Logosofia, minhas condições internas – mas meus familiares não. Compreendi que eu estava em certa vantagem e caberia a mim promover a mudança.
A partir desse ponto, comecei a me condicionar a recordar justamente do afeto profundo que tinha por eles sempre que uma reação negativa surgia em minha mente. No início, era realmente difícil, pois os pensamentos de crítica vinham com força, tentando afastar o sentimento. Era uma grande luta interna! Mas, quando o sentimento é forte, comprovei que ele consegue afastar os pensamentos contrários. Atenua as reações negativas e serena a mente, permitindo que eu pensasse melhor e de maneira mais ampla, dando a devida relevância ao fato em questão.
O sentimento também me ajudou muito nessa experiência com meus familiares, quando comecei a me colocar no lugar deles antes de reagir internamente diante de uma falha. Assim, diante de cada fato, eu pensava: “E se fosse eu que tivesse feito isso?” e “Eu não poderia incorrer no mesmo erro?!” Aprendi que me colocar no lugar do outro é sempre uma posição mais ética do que a simples crítica gratuita.
Um segundo passo, com a mente mais serena e antes de desferir uma crítica ou julgamento, foi me acostumar a refletir sobre que forma poderia ajudar a mitigar as consequências dos erros. Mas isso precisa ser feito com o intuito puro de ajudar, ou seja, com a mente limpa, desprovida de pensamentos de crítica e censura, pois, caso contrário, a ajuda não é bem recebida. Digo isso por experiência própria, pois muitas vezes meu ato de ajuda se voltou contra mim e acabou sendo inócuo. O intuito puro de ajudar é algo muito ético, pois une as pessoas.
Aprendi que o sentimento de admiração ajuda muito também. Afinal, esses meus familiares eram pessoas que tinham qualidades que eu admirava. Então, fiz um levantamento dos seus pontos positivos para fortificar a admiração que tenho por eles. Foi algo incrível, pois esses sentimentos, agora cada vez mais fortalecidos, são como soldados de primeira linha que estão sempre prontos a me defender internamente de pensamentos que aparecem para gerar algum incêndio mental – que, ainda bem, são cada vez mais esporádicos.
Aprender a perceber e aquilatar melhor os valores dos outros ajuda muito no cultivo e fortalecimento dos sentimentos. Quando se julga alguém, não se deve fazê-lo sem levar em conta toda a vida do ser, que certamente não pode ser resumida a um erro recente. Assim como eu, todo mundo tem qualidades e defeitos.
Como fruto de muita reflexão, aprendi a entender melhor o tempo do outro. Cada um age no seu tempo e segundo sua bagagem de vida. Se eu, em face de determinada circunstância, tenho condição de agir melhor e mais rapidamente em alguma circunstância da vida, isso é fruto de aprendizado, e não posso esperar a mesma destreza de alguém que não passou por esse processo de aprendizagem ou que está apenas em seu início.
A experiência segue em curso há anos, pois estou sempre sendo surpreendido por situações diferentes que se apresentam e me põem à prova, quando menos espero. Mas, com certeza, meu convívio com esses familiares queridos melhorou muito, assim como os sentimentos profundos que nos unem foram fortalecidos de modo decisivo. Acredito que eles sintam esse efeito, mas certamente não têm ideia do trabalho interno que tenho realizado e de quão recompensado e feliz me sinto.
