Nas últimas férias, passamos uma semana em uma daquelas praias maravilhosas do litoral do Rio. Na praia havia uma ilhazinha de pedras que era facilmente acessada quando a maré estava baixa.
Do outro lado das pedras tinha uma piscina natural, de água cristalina e refrescante. Havia duas formas de chegar nela: a mais indicada era dando uma pequena caminhada e descendo algumas pedras uma a uma, entrando na piscina aos poucos, pela parte mais rasa. A outra era saltando do alto das pedras, que não era assim tão alto, mas requeria alguns cuidados. Claro que me bateu aquela vontadezinha de saltar…
Dei uma pequena examinada e conclui que saltando um pouquinho para frente já era suficiente para não me chocar com as pedras no fundo. Projetei uma daquelas cenas que costumam exaltar a liberdade. Um clique na hora certa daria uma ótima foto pro Instagram.
Meus filhos provavelmente lembrariam da cena, o que contribuiria para que formassem de mim a imagem de um pai descolado, que sabe aproveitar a vida… Ops. Foi justamente aí que minhas reflexões mudaram de trajeto, e comecei a refrear o pensamento (ou seja, a vontadezinha de saltar).
Já menos obstinado com aquela ideia, pensei então que meu filho mais velho provavelmente iria querer me imitar. Acho até que ele conseguiria, mas aí já com alguns riscos a mais.
Recordei também um vídeo que vi há muito tempo, de um salto que deu errado, desses de tragédia que circulam na internet, que até então eu preferia nunca ter clicado.
O meu salto não daria errado como o do vídeo. O do meu filho também não, pois eu estava com ele e tomaríamos os cuidados necessários. No entanto, eu tinha domínio desses movimentos mentais para decidir saltar ou não. Já os meus filhos, não.
Se eu saltasse, com meu exemplo inculcaria neles um pensamento sobre o qual eles não teriam autoridade. Por mais que eu recomendasse depois que somente quando estivessem adultos eles poderiam fazer aquilo, a imagem seria mais forte do que a minha recomendação.
Primeiramente eles até me obedeceriam, mas, provavelmente, carregariam aquela cena e o conceito implícito nela por alguns anos. E quando adolescentes ou jovens, principalmente quando estivessem em grupo, a vontade do pensamento poderia falar mais alto.
Saímos nós cinco por onde entramos, caminhando calmamente de mãos dadas. Ninguém sequer imaginava os movimentos que eu internamente havia realizado. Mas, naquele momento, eu vibrava com uma das mais altas sensações de liberdade que já havia experimentado.