Acompanhando a experiência citada anteriormente, é muito interessante como a faculdade de pensar abre as portas da inteligência para o início da fixação dos conhecimentos na consciência. Trarei hoje uma experiência que pude viver, junto de algumas reflexões que obtive com os estudos sobre a consciência e a faculdade de recordar. 

Certa vez, quando ainda fazia faculdade, encontrei uma amiga no corredor e ela perguntou-me com entusiasmo como havia sido uma mesa-redonda que eu tinha conduzido pouco tempo antes. Eu respondi a ela que não tinha ido em nenhuma atividade do gênero, e ela, com graça, ignorou minha resposta e logo perguntou: “Como foi a sua apresentação? A orientadora gostou?”. Após um momento de estranhamento, logo me dei conta do que ela estava falando. E realmente a atividade acontecera no dia anterior: a apresentação, muito importante,  da minha pesquisa da graduação, para a qual eu havia preparado-me muito. Após a rápida conversa com minha amiga, a situação não saiu da minha mente:  “Como eu não recordei de algo tão importante que ocorreu ontem?” 

  Isso já aconteceu com vocês? De viverem algo muito importante, e logo depois esquecer? Aquela experiência que na hora se vive com tanta intensidade, mas meses depois já não se recorda mais? E passa a viver a vida como se aquilo nem tivesse acontecido, às vezes deixando pequenas coisas tomarem um espaço maior ou substituírem aquela alegria? 

Recentemente vivi outra situação, onde passei momentos de muita alegria com minha família, mas ao voltar para casa peguei um trânsito e cheguei muito irritada, acabando por deixar os pensamentos de irritabilidade tomarem conta de mim, sem nem recordar da tarde boa que vivi. Situações como estas me faziam sentir angústia e imaginar que a minha vida era um tanto difícil e, por vezes, simples demais — ou até azarada. Eu demorei para perceber o quanto faço isso na minha vida e, observando melhor, constatei que tal fato repete-se com muita frequência. 

Ao relatar esta experiência para uma amiga, ela orientou-me a registrar em um caderno os episódios felizes da vida. E, assim, fui registrando sem dar muita importância para essas anotações, até que, em uma semana em que estava me sentindo triste, resolvi rever as minhas anotações e pude ver quantos momentos especiais eu tinha vivido, de que não mais recordava. Fui percebendo que a minha vida era cheia de pessoas especiais, de conquistas, de momentos muito importantes, e que durante o dia a dia eu não recordava deles e por isso não sentia gratidão. 

Senti que devia continuar anotando, sem saber muito por quê. Depois de algum tempo, passei a sentir gratidão por essa condição humana de poder desfrutar das recordações, de viver novamente dentro de mim as sensações dos momentos felizes que estavam no passado, mas que, de uma maneira nova, eram também parte do meu presente, pela minha prerrogativa de recordar. 

A Logosofia apresenta esta condição humana como uma das faculdades sensíveis, a faculdade de recordar. Eu fui em busca de querer saber mais sobre o tema e resolvi fazer um estudo guiado pela seguinte pergunta: “Como viver mais consciente a vida para, depois, recordá-la mais?” 

Para responder a esta pergunta, busquei estudar a bibliografia logosófica e encontrei no livro Introdução ao Conhecimento Logosófico o seguinte parágrafo:

Para que se quer viver o que imediatamente depois será esquecido? Que significado tem essa forma de conduzir-se? Que consciência pode haver da vida, se não se sabe encaminhá-la em todo momento como algo ativo, como algo sempre presente, que não se ausente nunca da consciência e cuja recordação não seja perdida?”. 

Fiquei pensando na minha vida, em todas as fases que já passei. Algumas eu recordo com muita nitidez, e outras só me recordo de pequenos fatos. Mas realmente, muita vida passa por mim despercebida. E é lógico pensar que, com o tempo, será esquecida. Por que a mente ou o coração guardariam uma porção da vida a que não atribuímos valor? 

Foi assim que, num dia muito especial, no qual estava feliz e havia feito muitos estudos, gravei um vídeo para mim mesma e o salvei com o título “para os dias difíceis”. De Luisa para Luisa, falei comigo, dando-me conselhos de elementos logosóficos que estava aprendendo e que serviriam para os dias que eu estivesse com a mente muito atribulada. Citei, por exemplo, que o problema deve ter o tamanho que ele merece, sem ocupar toda a vida; que antes de tomar uma grande decisão, deveria ouvir e conversar com outras pessoas; que eu deveria ser alegre e confiar em mim mesma. 

Sempre que vejo esse vídeo e chega nesta parte, eu me emociono. Porque parece que sinto essa Luisa de alguns tempos atrás e conecto com ela. Foi aí que comprovei algo muito importante: se eu não recordar da minha vida, eu deixo de saber quem eu sou, eu me perco em espaços vazios pelo tempo da vida. Mas, se eu recordar… Ah! Aí eu posso unir esses tempos, evoluir, manter vivo em mim esse conteúdo que servirá de elementos de evolução para toda uma existência. 

“Permanecer no presente, dominando ao mesmo tempo o passado e o futuro, é ter verdadeira consciência da vida, sabê-la viver e desfrutar, e saber ampliá-la ilimitadamente.” 

 

Já imaginou este conhecimento sendo oferecido nas escolas para crianças, desde pequenas, já terem acesso a esse conhecimento de si mesmo? No nosso podcast Entre Mundos, você poderá assistir ao episódio sobre este conhecimento sendo inserido nos colégios logosóficos, com a presença de professoras do colégio e estudantes de Logosofia. 

 

No próximo conteúdo, utilizaremos todos os conceitos estudados até aqui: Consciência, pensar e recordar para aprofundar na conexão destes temas à vida.