Durante muito tempo ouvi a seguinte frase: “No final, tudo vai ficar bem. Se não está bem é porque ainda não chegou no final.” E eu me perguntava: – Então quer dizer que não preciso fazer muita coisa, é só esperar o tempo passar e tudo vai ficar bem?
Ao longo do tempo, cada um se depara com situações em que é preciso fazer escolhas e tomar decisões: que faculdade quer cursar, em que cidade quer morar, que rumo dará à vida profissional. Escolhas que são grandes e logo promovem, de modo visível, mudanças na vida.
Há também as pequenas escolhas: falar ou não o que se pensa, ir ou não a determinado lugar, se é saudável ou não cultivar determinada amizade… Decisões que em princípio não mudam em nada a vida, mas que, se não foram bem pensadas, podem dar à vida um rumo que não seja o pretendido.
Quando se cultiva uma amizade, cultiva-se também a simpatia, o respeito e a confiança; descobrem-se gostos em comum, afinidades. Com o convívio mais próximo, estabelece-se, muitas vezes, entre os amigos o que eu costumava chamar de “liberdade” para falar tudo o que se queira.
Eu tinha uma amizade. Gostava tanto dessa pessoa que podia dizer que confiava mais nela do que em mim mesma. Sem que eu percebesse, essa grande confiança levou-me a um caminho que não me agradava: o que a outra pessoa dizia era mais importante do que eu pensava. Se ela dizia que eu não iria conseguir, eu sequer tentava; se ela dizia que determinado jeito era melhor, então eu fazia.
Ficava cada vez mais presa a pensamentos e vontades que não eram meus.
Diferentemente do que eu pensava antes, o tempo estava passando e não estava ficando “tudo bem” em vários aspectos da minha vida. As perguntas começaram a surgir:
Percebi então que eu precisava de liberdade para ser quem eu era e não o que os outros queriam que eu fosse. Não precisava ser livre para falar impulsivamente o que eu pensava, e, sim, ser livre para atuar da forma que eu julgava ser a correta.
Se eu continuasse vivendo a situação da mesma forma, olhando somente para fora, continuaria vendo o que os outros diziam e nada mudaria. Senti então que eu precisava olhar para dentro de mim mesma e confiar no que me diziam a minha mente e a minha sensibilidade.
A confiança em si mesmo pode ser construída, e comecei a construí-la conhecendo-me e perguntando:
Ao voltar a atenção para dentro de mim, vi que ali havia um ser valente e disposto a enfrentar as lutas que precisasse para se tornar melhor e mais capaz, que teria dificuldades, mas teria onde buscar recursos para enfrentá-las.
À medida que se constrói o próprio ser com confiança no que se pensa e no que se sente, as amarras que nos prendem à opinião dos outros se soltam e as prerrogativas de escolher o próprio futuro e destino se ampliam. Viver o que os pensamentos dos outros determinam deixa então de fazer sentido.
Para que tudo fique bem, não basta esperar que o tempo passe e as situações se resolvam sozinhas. Para conquistar a liberdade e atuar conforme o pensar e o sentir indicam, é necessário ser ativo frente ao futuro que se quer viver.