Se examinamos a estatística dos suicidas*, veremos que estes, na maioria dos casos, malograram suas vidas em plena juventude, entre os dezessete e os vinte e três anos de idade. Muito poucas exceções ocorrem fora dessa faixa etária.

Perguntar-se-á, sem dúvida, quais são as causas que influem no ânimo do jovem que adota tão irreparável atitude. Vamos responder do ponto de vista das observações logosóficas.

O cenário mental do jovem

A criatura humana, durante esse período, ainda não se identificou com a vida, o sentido da responsabilidade ainda não despertou nela; vive como alheia à realidade da própria vida. A proteção paterna parece excluir toda preocupação quanto a seus deveres para com a sociedade e o mundo em que vive.

Nessa idade, não aprendeu ainda a resolver os pequenos problemas que as necessidades morais próprias lhe criam; tampouco ensaiou as primeiras lições da temperança e da reflexão. Supõe que o primeiro pensamento que lhe acode à mente é o único que existe para julgar qualquer situação, e rechaça, com não pouca altivez, todo raciocínio que os maiores lhe fazem com o objetivo de auxiliar seu incipiente juízo.

Se tem um amigo, pensa que só ele é capaz de lhe ser fiel; se um amor, que é o único que pode fazê-lo feliz; e sofre, em consequência dessa atitude mental e sentimental, amargas decepções, que o levam muitas vezes a graves resoluções, se algo superior a suas forças não influi para fazê-lo mudar de decisão.

O que induz esse tipo de suicida a consumar o crime contra sua vida é, geralmente, um ressentimento.

O que não passa pela mente suicida

Ele pensa, por exemplo, na dor imensa que sentirão pais, irmãos e amigos; quer ver todos eles aflitos, dispensando-lhe atenções e dando-lhe a razão que até esse instante lhe fora negada, ou que ele acreditou lhe estivessem negando. Com os olhos de uma imaginação embriagada pela sedução da tragédia, o jovem vê que deixará de ser indiferente para os demais, que passará a ser recordado por todos, com pranto, desespero e arrependimento; vê tudo quanto sua hipertrofiada vaidade lhe faz ver.

Porém, não consegue ver, por terem sido cegados os olhos de sua razão, que está truncando toda uma vida, que poderia desfrutar e utilizar para edificar a própria felicidade. Não vê que seu desaparecimento nada implica para o mundo; que seus pais e familiares no final das contas se consolarão, dando prosseguimento a seus dias como quando ele vivia.

Mas… e o crime que comete, e os horríveis tormentos que padecerá sua alma num purgatório sem expiação, como poderá repará-los? Quem é o ser humano para desprezar a existência que Deus lhe concedeu? Se cada potencial suicida pensasse nisso, mais de uma mão se deteria, e o coração se encheria dos sobressaltos do espanto.

*Artigo escrito em 1942, extraído de Coletânea da Revista Logosofia – Tomo 1, p.45

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo I

Coletânea da Revista Logosofia – Tomo I

baixar

Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.