Mente

Com a Bomba-Relógio nas Mãos

julho de 2020 - 4 min de leitura
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Com a Bomba-Relógio nas Mãos

julho de 2020 - 4 min de leitura

Havia me mudado de cidade recentemente e durante o trabalho de mudança encontrei minha carteira de vacinação com algumas vacinas vencidas. Por esse motivo, numa bela manhã, fui animado até o postinho de saúde do bairro em que agora eu morava. Depois da longa fila para ser atendido, sentei-me em frente a uma senhora.

Bomba-relógio armada

Ela explicou que, como eu era novo naquela unidade de saúde, eu deveria fazer um cadastro. Prevenido, tinha minha identidade e um comprovante de residência.

– Tudo certo! – disse a ela enquanto entregava-lhe os documentos.

– Ah, acontece que o sistema de cadastros não está funcionando no momento – disse-me ela.

– E ele tem previsão de voltar a funcionar? – perguntei esperançoso.

– Não. Ele sempre cai… Todo o dia…

Nos olhamos por alguns segundos.

– Posso então tomar as vacinas agora e noutro momento fazer o cadastro?

– Não. É preciso fazer o cadastro antes.

Meu sangue ferveu… “Maldito sistema público de saúde! Parece que tudo foi feito para dificultar a nossa vida! Por isso que o país tá do jeito que tá!”

Foram esses os pensamentos que se apoderaram de minha mente naquele momento. E eles armaram uma perigosa bomba-relógio dentro de mim. A qualquer hora ela poderia explodir e aquela salinha do posto de saúde se transformaria num palco onde voariam afiadíssimos estilhaços para todo lado.

– E qual o melhor horário para eu retornar? Sabe, hoje estou com tempo e de repente poderia voltar de tarde. Qual a hora é que geralmente o sistema está funcionando?

– Não sei dizer – Ela me responde de ombros altos – Todo o dia o sistema fica fora. Ele cai e volta toda hora…

A resposta dela quase detonou a bomba-relógio. Era a deixa que meus pensamentos precisavam: “Grite com essa pessoa, ela só pode estar zoando com a tua cara! Me desloquei até aqui, levei os documentos, só quero tomar as vacinas, pô! Cadê meus direitos?! Pago meus impostos e cumpro meus deveres!” – gritavam os pensamentos em minha mente alfinetando-me para que eu os verbalizasse em alto e bom tom.

Desarmando a bomba-relógio

A bomba estava prestes a explodir. Era só levantar daquela cadeira e me mostrar indignado com a situação, com a precariedade do sistema, com o atendimento daquela pessoa em minha frente. Seria cena digna das telonas: Levantar e dizer “Que vergonha disso tudo aqui! Ninguém merece nada disso!” Alguém poderia até filmar e eu ficaria famoso nas redes sociais por lutar e me impor pelo bem do país e pelos direitos do cidadão! Já estava vendo tudo!

Entretanto, minha consciência levou-me a refletir sobre o que aconteceria se eu fizesse toda essa cena. Era simples: sairia de lá com minha razão, porém, sem a vacina. E qual era o motivo de eu estar lá? Brigar com a senhora que fazia seu trabalho? Mudar o sistema público de saúde? Impor o que eu pensava? Me estressar? Me exibir? Mergulhar um belo dia em raivosas discussões? Não… Era simplesmente tomar uma vacina e continuar com meu dia feliz.

Nesse ponto, já com as mãos suadas de segurar aquele explosivo mental, percebi que aqueles vários pensamentos que me ocorreram não estavam visando resolver o problema, muito menos cumprir com o propósito daquela ação. Eles, consumindo minhas energias, estavam me desviando da solução que eu precisava, solução essa que viraria migalhas com a explosão final da bomba-relógio.

Mas eu tinha alguns segundos ainda. Pensei bem no que eu queria. Recordei que para tudo há soluções e que eu conseguiria encontrar a melhor delas caso olhasse para dentro de mim mesmo. E foi o que eu fiz. Deparei-me com aquela bomba. Teria que desarmá-la se quisesse resolver o problema. E essa era minha verdadeira vontade, buscar a solução, e não me distanciar ainda mais dela como quem é arremessado para longe por uma enorme explosão.

Com as mãos da inteligência, cortei os fios da bomba-relógio e decidi resolver o problema. E o interessante é que essa decisão me deixou extremamente feliz.

Falei, então, gentilmente à senhora que me atendia:

– Então, queria tomar a vacina ainda hoje… – sorri para ela, aliviado (é claro! Acabava de escapar de uma explosão!), – Como é que podemos resolver esse problema? Será que não há alguma outra forma? – perguntei, seguro de que, caso não houvesse, não me estressaria, voltaria em outro momento.

Acabou que aquela senhora fotocopiou meus documentos e me mandou para casa. Assim que o sistema voltou, naquele mesmo dia, ela fez o cadastro para mim e me enviou um e-mail avisando. Retornei à tarde, no mesmo dia em que desarmei a bomba, e tomei as vacinas.

Nesse dia descobri uma grande chave: Buscar solucionar os problemas é sempre o melhor caminho. Seja ao brigar com um amigo ou familiar ou ao se desentender com alguma pessoa, seja quando surgem adversidades do dia a dia da vida ou quando tenho que tomar decisões e optar por escolhas.

Se conscientemente eu decidir olhar para meu próprio interno, para mim mesmo, e ir atrás da solução, estarei escolhendo, com certeza, o caminho mais feliz rumo ao êxito.


Um pensamento de

 Henrique Miotto Zolet
Henrique Miotto Zolet, 20 anos, acadêmico de medicina da Universidade Federal do Paraná. Ex-aluno do Colégio Logosófico da cidade de Chapecó – SC, onde nasceu e cresceu. Ingressou há dois anos na Fundação Logosófica de Curitiba – PR, onde reside atualmente.

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