Aperfeiçoamento

3 – Acepção do vocábulo “humildade” – Concepção logosófica das palavras

maio de 2019 - 5 min de leitura
Aperfeiçoamento

3 – Acepção do vocábulo “humildade” – Concepção logosófica das palavras

maio de 2019 - 5 min de leitura

Humildade. – Virtude cristã que consiste no conhecimento de nossa baixeza e miséria, e em agir conforme ela. Ato de alguém se anular perante Deus ou de se considerar inferior ou de menos mérito ante os homens. Baixeza de nascimento ou de qualquer outra espécie. Submissão, subordinação. Humildad de garabato: é a humildade falsa ou afetada. Teoria ascética: A humildade provém do conhecimento de nossa posição real perante Deus, de que nada valemos e de que tudo provém d´Ele. Com respeito à sociedade, é o conhecimento real do que devemos a ela, no que diz respeito à nossa formação moral, científica, social e religiosa. – Ascética cristã: Base e fundamento de todas as virtudes, porque, sabendo de verdade quanto se vale, não se edificará sobre o erro e a falsidade. Sob este conceito, não se pode confundir com o pessimismo. Significa ser livre dos exageros do orgulho e, portanto, favorece o desenvolvimento normal de nossas faculdades e aptidões e nos habilita a corrigir as nossas deficiências. A humildade leva como distintivo a modéstia e a flexibilidade (não volubilidade) do juízo próprio. O verdadeiro humilde foge do fausto aparato exterior, é condescendente com o próximo. Tem certa desconfiança de seu próprio juízo e busca conselho do prudente e sábio. (Diccionario Enciclopédico Espasa-Calpe.)

Vamos esmiuçar, neste estudo, o conteúdo da palavra humildade. Nele se poderá avaliar, de imediato, como o conceito logosófico difere quase que em absoluto do que se tem correntemente. E ainda que em alguns aspectos pareça coincidir com a opinião mais familiar ao entendimento humano, em sua descrição e em seu conteúdo se poderá ver, ao mesmo tempo, ao aprofundar-se na análise, uma pronunciada diferença.

A humildade, em sua essência, encerra grandeza; referimo-nos à verdadeira humildade, não à falsa, à hipócrita. É uma virtude que fala das altas qualidades do espírito e, como tal, pronuncia-se como condição do caráter. É natural, jamais fingida. Manifesta-se espontaneamente nas pessoas, com pureza no sentir e no pensar. Não busca o elogio, diferentemente do que se percebe na intenção de quem aparenta ter essa virtude e a ostenta, especulando com a bondade do semelhante. A verdadeira humildade recolhe o ser dentro de si mesmo, permitindo-lhe apresentar-se sem traços postiços, sem fingimento: naturalmente. Tudo ao contrário da falsa, que encobre vaidade e soberba, exteriorizando-se ainda com ironia enquanto se fazem protestos de humildade.

A humildade propriamente dita encerra, como dissemos, grandeza, porque resiste até à mais crua ofensa e se manifesta de múltiplos modos, denunciando sempre uma cultura elevada. Ela dota o ser de uma condição natural de afabilidade e cortesia; engendra a benignidade, a tolerância e a boa disposição para conciliar os temperamentos. A falsa humildade é egoísta e, em seu fundo, é uma expressão de usura e de engano. Assemelha-se ao jogador que tem a carta escondida na manga para surpreender os que jogam com ele e ganhar com desonestidade. Ser humilde, na pureza do sentido, é ser uma alma grande; porém, é necessário saber ser humilde. Tal condição de caráter ou qualidade do espírito implica possuir uma ampla compreensão das coisas, um amplo discernimento, um juízo sereno e uma valentia moral a toda prova.

Existe um tipo psicológico de seres que ilustra o que comumente se passou a chamar de humildade para lucro pessoal. Esses seres apresentam-se, em geral, com aparência de vítimas a quem se prejudica com toda classe de injustiças; e, enquanto deixam entrever uma conduta submissa, dando a impressão de serem pessoas boas, verificam minuciosamente o efeito que produzem no ânimo daqueles com quem tratam habitualmente. Se um objeto desaparece, seja ou não de valor, e é encontrado na bolsa deles, teremos aí as vítimas de alguém que lhes quis causar dano, fazendo-os passar por ladrões. Se seus embustes são descobertos, virão os protestos de inocência para significar que não existia a intenção atribuída. A simulação é sua qualidade mais destacada: cultivam uma amizade para depois promoverem questões nas quais sempre procuram ser considerados como injustiçados.

Eis o grande valor que a Logosofia atribui ao saber em face da ignorância, visto que, conhecendo o conteúdo substancial de um conceito ou de uma palavra, pode-se a todo momento atuar com segurança de juízo ou reflexão, preservando-se assim da sutileza e do engano. Pode-se apreciar bem claramente, também, quão grande é a diferença que existe entre a elevação de quem cultiva a verdade e a baixeza de quem opta pelo falso.

É um erro crer que a humildade e a pobreza são a mesma coisa, e ainda confundi-las, pois esta última é, muitas vezes, motivo de rebelião e de rancor. Não é, precisamente, um gesto de humildade o desprezo e o ressentimento com que muitos pobres olham, não apenas para os ricos, mas também para os que gozam de uma posição mais ou menos folgada, como tampouco o é o daqueles ricos cuja vaidade e soberba os fazem menosprezar os de inferior condição.

A humildade surge com o discernimento, e é o saber o que a institui como condição superior. Isto não quer dizer que não existam exceções e não se encontrem pessoas de reconhecida bondade entre as que pouco ou nada cultivaram suas inteligências; porém, o certo é que, no primeiro caso, age-se conscientemente com humildade, enquanto se age, no segundo, sob o império da habitualidade inata ou de formas inconscientes de manifestação do caráter.

As grandes figuras da História foram tão mais humildes quanto maior era seu prestígio.

Por último, se a soberba, que é sua antítese, cega, a humildade vigoriza a visão e permite com vantagens marchar pelo caminho do bem.

Photo by Kane Reinholdtsen on Unsplash

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Um pensamento de

 Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.

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