A citação
Nada é permanente, exceto a mudança
é atribuída ao filósofo grego Heráclito de Éfeso, que viveu por volta do ano 500 a.C. Mais recentemente, temos ouvido frases como
As únicas certezas da vida são a mudança e a morte
e outras que indicam a mudança como algo tão certo quanto a própria vida.
Cada etapa de vida – infância, adolescência, juventude, fase adulta – traz algo novo: seja no desenvolvimento físico e biológico, seja em um relacionamento que pode levar à constituição de uma nova família, seja no campo profissional, que pode exigir mudanças de local de trabalho, de empresa, de cidade, de estado e até mesmo de país.
Apesar da realidade das mudanças, não é raro ver pessoas que se negam a aceitar as novas situações da vida que se impõem, recusando-se a se adaptar ao novo contexto. Essa resistência, no entanto, gera queixas, lamentos e sofrimento, tornando os dias mais pesados e infelizes.
Para lidar melhor com as transformações, é fundamental que algo se transforme internamente, favorecendo a adaptação à nova realidade.
A Logosofia apresenta as Leis Universais como a vontade expressa do Criador na Criação. Destaco duas que estão diretamente relacionadas ao tema: a Lei das Mudanças e a Lei de Adaptação, responsáveis por regular as diversas situações mencionadas. De que maneira? Apresento a seguir um exemplo para ilustrar.
Em 1969, quando estava com 15 anos, mudei-me da cidade do Rio de Janeiro para Brasília em razão da transferência de meu pai. Essa não foi a única mudança. Na verdade, tudo se transformou: cidade, casa, amigos, escola, trânsito… tudo. Eu lamentava não ter mais a praia, os amigos, as festas, os shows – tudo o que havia deixado no Rio de Janeiro. Passei horas, dias e meses sofrendo, sem conseguir realizar a mudança de aceitação dentro de mim. Externamente, uma grande transformação; internamente, minha realidade continuava a mesma, marcada pela lamentação, pelas lágrimas e pela dor.
No entanto, assim como o dia sucede a noite, a nova cidade trouxe novos amigos e experiências, que, aos poucos, foram substituindo as lembranças da cidade anterior, permitindo-me adaptar gradualmente à nova vida na cidade em que vivo e adoro. Mas a necessidade da mudança interna também se apresenta em outros contextos.
No nosso dia a dia, situações difíceis se sucedem: um colega que se considera dono da verdade, um vizinho inconveniente que reclama de tudo, um professor rígido que não admite atrasos, um chefe exigente e perfeccionista, que quer tudo do jeito dele…
Que soluções buscar?
Naturalmente, a solução desejada seria que eles modificassem seu jeito de ser . Assim, teriam de se tornar simpáticos, flexíveis e compreensivos. Mas estariam dispostos a isso? Percebem-se como pessoas difíceis? Essa solução só se mostra possível no mundo quimérico. No mundo real, porém, o que cada um pode fazer diante de pessoas consideradas difíceis?
Descobri que a mudança deve começar por mim, que tenho a grande prerrogativa de modificar meu estado interno e de me tornar responsável pelo que penso e sinto frente às dificuldades e problemas que se apresentam.
Há um trecho da bibliografia logosófica que diz:
… até quando seguiremos pensando que são os demais que devem mudar seu modo de ser? Não é isso desejar um bem que a nós mesmos nos negamos? (Senhor de Sándara, p.311)
Em algumas ocasiões, diante de dificuldades na convivência, experimentei mudanças internas que impediram que eu me afetasse pelas atitudes do outro, que me incomodavam.
Essa iniciativa gerou uma luta interna entre considerar minha própria posição justa e adequada e a do outro equivocada. Recordei meu propósito de não esperar do outro a solução, o que resultou em triunfo ao decidir não me deixar afetar pela posição alheia, permitindo-me conduzir a situação de maneira mais feliz.