Deus nos deu um ser dotado de todas as condições para que façamos dele uma obra mestra, graças ao constante aperfeiçoamento dessas condições; aperfeiçoamento cuja obtenção requer o auxílio de conhecimentos que conduzam a inteligência ao descobrimento de cada uma das facetas desse maravilhoso diamante interno que todos possuímos, e que só brilha quando o polimos.

Essa joia da natureza humana se encontra nas próprias entranhas do ser, coberta e recoberta por camadas protetoras, à semelhança do mineral que se transforma em pedra preciosa, o único que não pode ser lapidado senão com o próprio pó; o mais límpido de todos, que não pode ser riscado por nenhum corpo, e cujas arestas cortam o cristal sem quebrá-lo.

Não se trata, pois, de realizar uma simples viagem de exploração dentro de si mesmo, sem outro preparo que a audácia pessoal, porque se extraviaria no caminho após pouco andar. É imprescindível estudar previamente a topografia do campo psicológico individual. A Logosofia assinala suas partes mais acidentadas e mostra as passagens difíceis, proporcionando elementos para transpô-las com êxito.

É essencial que o homem saiba que é um acumulador de energias, tal como o prova sua constituição física, mental e psicológica, e que pode servir-se delas na aplicação de seus esforços no próprio aperfeiçoamento.

A Logosofia ensina a concentrar essas energias, destinadas a fortalecer o espírito e a promover o ressurgimento do ser consciente em esferas superiores de evolução. O contrário do que faz a maioria, que só acumula essa potência dinâmica na medida necessária para viver e vegetar, e, quando excede essa necessidade, gasta as reservas em preocupações ou em diversões de toda índole, que em nada beneficiam o ser íntimo, que clama por existir e governar seu mundo mental-psicológico, em consonância com o grande objetivo de sua existência.

A vida é um espelho onde se reflete o que o ser pensa e faz,ou o que os pensamentos próprios ou alheios o levam a fazer

Para o comum dos homens, a vida é o espaço compreendido entre o primeiro e o último dia de seu ser físico. Pertence-lhes exclusivamente e podem, portanto, fazer dela o que lhes apraz. Porém, o indivíduo que assim pensa conhece todos os usos que pode fazer dessa grande oportunidade humana? Mais de uma vez já não o vimos deplorar, entristecido, o tempo que sem proveito lhe fugiu com a vida? Já não o vimos insatisfeito e desconforme com a existência que levou? E não tem ele atribuído à má sorte seus padecimentos e infortúnios? Pois bem, que solução lhe foi oferecida para desfrutá-la em seus elevados conteúdos?

Não bastam, pois, nem a prática de princípios nobres e piedosos, nem todas as variações do engenho humano, para viver a vida na plenitude de sua força renovadora e no cumprimento dos elevados objetivos de bem para os quais ela foi instituída. A verdadeira felicidade de viver se encontra quando vão sendo conhecidos os extraordinários recursos que ela contém; isso quer dizer que, ao conhecê-la por dentro, são descobertas suas ignoradas possibilidades e suas luminosas projeções.

Transformado o ser – psicológica e espiritualmente – pelo influxo de conhecimentos tão essenciais para seu aperfeiçoamento, também seu destino se delineia com outros contornos e oferece perspectivas de qualidade muito superior às que esperam o indivíduo que permanece alheio a estas verdades. Esse destino, que cada um pode forjar, depende muito da realização interna e do avanço no conhecimento de si próprio.

É, por conseguinte, o próprio ser quem, voluntariamente, pode mudar seu destino por outro melhor, quando sua inteligência se esclarece e busca outros horizontes em que possa expandir sua vida, elevando-a por cima de toda limitação. Esse destino é o patrimônio espiritual do homem; o arcano inviolável que contém impresso o processo secreto de sua existência.

É deficiência comum do temperamento humano a carência de iniciativa própria. A inércia mental, consequência da inatividade da função de pensar, mantém adormecida a capacidade criadora da inteligência. Correlativamente, e por natural gravitação, aparece a falta de estímulos. Aqui é onde se observa o precário estado psicológico de muitos que, sem saberem definir o que lhes sucede, nem a que atribuir o estancamento em que vivem, passam seus dias e amontoam seus anos numa infecunda velhice. Faltos de condições para abrir seus entendimentos ao exame das experiências e situações, sem o incentivo das ideias, nada que não sejam os caprichos da sorte poderá favorecer o movimento feliz de seus pensamentos.

O conhecimento logosófico edifica e impulsiona, ao mesmo tempo, os afãs de capacitação. Fundamenta-se na realidade da vida humana e de tudo quanto existe, e ensina a conduzir o pensamento por caminhos seguros. Como ensinamento, desperta o entusiasmo e, ao mesmo tempo que orienta o entendimento, proporciona sugestões que são captadas pela mente e que a inteligência traduz em iniciativas.

O homem deve ir sempre em busca daquilo que não está na órbita dos conhecimentos comuns, a fim de dilatar a vida rumo a campos fecundos, os quais, dominados pelo saber e pela experiência, lhe permitam alcançar progressivamente maior perfeição. Em cada novo dia em que sua vida penetre, deverá encontrar um incentivo para aproveitá-la melhor, e também algo que o inspire acerca do que deve fazer para que os dias vindouros superem os atuais e lhe proporcionem, ao serem vividos, o benefício de sentir-se bem, seguro e feliz.

Extraído de O Mecanismo da Vida Consciente, p.48-53


Carlos Bernardo González Pecotche, também conhecido pelo pseudônimo Raumsol, foi um pensador e humanista argentino, criador da Fundação Logosófica e da Logosofia, ciência por ela difundida. Nasceu em Buenos Aires, em 11 de agosto de 1901 e faleceu em 4 de abril de 1963. Autor de uma vasta bibliografia, pronunciou também inúmeras conferências e aulas. Demonstra sua técnica pedagógica excepcional por meio do método original da Logosofia, que ensina a desvendar os grandes enigmas da vida humana e universal. O legado de sua obra abre o caminho para uma nova cultura e o advento de uma nova civilização que ele denominou “civilização do espírito”.