Levado pela curiosidade à leitura de um estudo comparativo sobre o folclore de diversas partes do mundo, deparei-me com um fato muito interessante: praticamente em todas as culturas podemos encontrar seres fantásticos — em geral pequenos em estatura — que vivem escondidos nos bosques e nas florestas e, de quando em quando, vêm atazanar a nós, humanos, praticando alguma travessura de maior ou menor gravidade.

São os duendes, gnomos, leprechauns, e muitas outras denominações, que encheriam páginas e mais páginas.

Para a minha surpresa, os duendes são típicos dos povos ibéricos, isto é, da Espanha, de Portugal, e de países colonizados pelos mesmos, e sua origem etimológica vem da contração da frase dueño de casa ou duen de casa.

A eles era atribuída a culpa de muitos incidentes domésticos. Por exemplo, se os chinelos do dono da casa não estavam no lugar de costume, isso era indiscutivelmente obra de algum duende dado a zombarias. Por serem rápidos e furtivos, nunca eram efetivamente vistos. Mas o rastro de confusão e desordem era inequívoco: a residência só poderia ter sido invadida por uma dessas criaturas malévolas.

Fico imaginando quantos erros não foram injustamente imputados a esse pequenino personagem dos contos-de-fada! Desde os alvores da civilização, o ser humano sempre buscou fora o que facilmente encontraria dentro de si: a causa de seus erros. Evidentemente, não me excluo desta regra quase sem exceções; em diversas situações de minha vida, quando algo de ruim me acontece, o meu primeiro impulso é o de atribuir a culpa a outrem. No meu caso, é uma lástima que os duendes já não estejam mais em voga!

Pensando melhor, talvez, no meu caso, não lastime esse fato tanto quanto poderia, se não fosse um estudante de Logosofia. Nesta condição, aprendi— e isso tem sido objeto de treinamento diário — a olhar para dentro e buscar em mim, conforme disse anteriormente, a causa dos meus infortúnios. E posso adiantar-lhes que o resultado é surpreendente: se seguirmos o rastro de confusão e desordem, iremos constatar que nós mesmos somos os responsáveis. Parcial ou integralmente.

Agora cabe a pergunta: por que em geral somos tão inconscientes a respeito das reais causas de nossos dissabores? Por que quase nunca temos em mãos o fio condutor de nossas ações? Por que fazemos coisas das quais nos arrependemos segundos depois?

A resposta — também dada pela Logosofia — é simples: porque a nossa mente é governada por pensamentos.

Os pensamentos, curiosamente, guardam algumas semelhanças com os duendes. Assim como eles, são por vezes tão furtivos que, quando nos damos conta, já fizeram das suas e pronto — o estrago está feito!

Se pudermos comparar, analogicamente, nossa mente a uma casa, são os pensamentos os seus donos de fato. Os tais dueños de casa.

Afinal, estamos tratando de “entidades psicológicas que se geram na mente humana, na qual se desenvolvem e ainda alcançam vida própria”, nas palavras do autor da Logosofia. Com o processo de evolução consciente que a Logosofia ensina a realizar, esses pensamentos ficam subordinados às diretrizes de nossa inteligência, ou seja, não são mais alheios aos movimentos de nossa vontade ou contrários às determinações do nosso sentir.

No famoso solilóquio do Rei Ricardo II, na peça homônima de Shakespeare, o monarca revela seu drama interior ao comparar sua mente a um pequeno mundo, habitado por pensamentos “de humores semelhantes às pessoas”. A existência dessas entidades animadas, embora talvez intuída mais de uma vez ao longo da história, foi posta a descoberto pela ciência logosófica, única a apontar um método seguro para conhecê-las até em seus pormenores.

O método logosófico, além de ensinar a conhecer os pensamentos que habitam nossa própria mente, leva-nos a classificá-los, a selecionar os melhores e também a aperfeiçoá-los, mediante o estudo e as experiências que se apresentam ao longo da vida.

Só assim seremos nós — e não os pequeninos — os verdadeiros donos de nossa casa mental.