O diálogo:

Certo dia, enquanto eu conversava com meu filho, ele volta e meia consultava o celular. Como repetia essa atitude muitas vezes, em determinado momento interrompi repentinamente minha fala. Na mesma hora, ele levantou a cabeça, com um sorrisinho irônico, deixando o celular de lado e disse:

– Pronto, já acabei! E completou:

– Isso incomoda, não?

– Incomoda muito, respondi.

– Você faz a mesma coisa, sabia?

– Eu? Nem costumo ficar com o celular do meu lado!

– É, mas quantas vezes eu estou falando algo e você fica fazendo outras coisas? E ainda me fala: “Pode falar que eu estou ouvindo”. E fica assim por muito tempo: mexe daqui, mexe dali, mas reforça: “Continua… pode falar que estou te ouvindo”.

A reflexão:

Refletindo sobre o que ele me falou, vi que a causa de minha atitude e a dele era a mesma. O pensamento* era o mesmo. Só “mudou de roupa”.

A partir daí, comprovei que fazia isso também com outras pessoas e me propus ficar mais atenta para evitar essa atitude tão desagradável.

E tenho ficado atenta mesmo. Estou ensaiando atitudes, por exemplo, de olhar para a pessoa com quem falo e ouvir o que ela fala, sem o impulso de dizer qualquer coisa. Ouvir primeiro e, às vezes, só ouvir.

São exercícios mentais que estou aprendendo com a Logosofia e que requerem treino para que se transformem em um hábito consciente. Mas os quero muito fazer. Quero muito aprender a me superar, e, nesse caso, dar mais atenção aos demais.

A vivência:

Nesse empenho, observei surgir mais uma oportunidade. Eu me preparava para atravessar a rua, quando vi uma vizinha que subia pela calçada, um pouco distante de onde eu estava.

Assim que a vi, fiz um sinal de cumprimento, ao qual respondeu. Tudo de longe. Normalmente nos encontramos assim, uma saindo, outra chegando, trocamos cumprimentos e palavras educadas, mas sem nenhum movimento para uma aproximação efetiva.

Naquele momento, fiel ao meu propósito, diminuí a velocidade do meu passo e ela se aproximou. Foi possível tomar a iniciativa de uma breve conversa, enquanto entrávamos juntas no prédio.

Perguntei por sua saúde, pelo filho, comentamos algo corriqueiro. Ela correspondeu a esse esforço, e assim que entrei em casa, senti uma sensação de aprovação interna, dizendo a mim mesma: “Inspirar simpatia é criar um meio de convivência feliz”. **

E pensar que o estímulo por viver momentos como esse surgiu de uma observação simples, a partir do uso do celular! Em vez de retrucar com mil justificativas as palavras de meu filho, foi possível aproveitar a oportunidade de ampliar minha vida, vivendo mais um momento de feliz convivência.

Afinal, que culpa tem o celular se somos nós quem podemos promover mudanças através de nossa própria determinação?

Do livro Logosofia ciência e Método, p. 42:

“pensamentos são “entidades psicológicas animadas, que desempenham um papel preponderante na vida humana”.

Do livro Bases para sua conduta, p. 23:

“Inspirar simpatia é criar um meio de convivência feliz, assim como dar alento a quem dele necessite é dever moral do homem”.