O que é levar a vida a sério?
Para você, o que é levar a vida a sério?
Essa foi uma pergunta que me fiz, após ficar sabendo da impressão que vários colegas de escola tinham sobre mim. Descobri que tinham formado esse conceito durante um reencontro da turma do colégio, anos após a formatura, quando muitos disseram que eu era um adolescente sério. E tenho que confessar: aquela impressão me surpreendeu!
Não restam dúvidas de que na infância, eu era visto como uma criança alegre e descontraída.Meus familiares, que compartilhavam a rotina comigo, sempre diziam isso. Eu ria de qualquer bobeira e até zombava dos amigos mais próximos – tudo em tom de brincadeira. Mas, hoje, ao recordar as coisas que me divertiam, percebo que já não vejo a mesma graça naquilo que antes me fazia morrer de rir.
Será que estou ficando ranzinza e mal-humorado?! Não pode ser. Não quero parecer uma pessoa assim. Ao fazer uma análise mais profunda do que conseguia observar dentro de mim – dos meus pensamentos e sentimentos – concluí que me sentia feliz, só não me divertia mais com os mesmos motivos do passado.
Mas o que me fez mudar assim? Quando essa mudança ocorreu? É claro que não foi de uma hora para outra, nem por um fato pontual. Não. Como tudo na natureza, foi um processo, que se iniciou quando tomei contato com a Logosofia. Hoje, tenho clareza de como alguns conceitos que passei a conhecer, ainda na adolescência, foram mudando a minha forma de atuar.
Para começar, lembro quando confrontei o que considerava ser “aproveitar a vida” com os novos conceitos que ia conhecendo nos estudos logosóficos. Antes, pensava muito em aproveitar o momento, com aquele conceito do carpe diem, sabem? Mas, ao aprender que o que é bom para uma época não é necessariamente bom para a vida, passei a buscar aproveitar o presente com coisas saudáveis que não prejudicassem o meu futuro.
Querem um exemplo prático disso? Como já disse, eu e meus amigos adorávamos zombar uns dos outros, mas depois passei a prestar atenção nas minhas brincadeiras, para evitar situações que pudessem gerar alguma inimizade no futuro. Lembro que falava para mim mesmo: “zoar um amigo pode me fazer rir por uns minutos, mas cultivar essa amizade pode me trazer felicidade por toda a vida”. Passei, então, a me distrair com diversões mais saudáveis. E esse cuidado foi só um pequeno exemplo. A partir daí, tive outras oportunidades de priorizar o que é de natureza permanente e deixar em segundo plano as alegrias passageiras.
Outro conceito que mudou a minha forma de ver a vida foi o de liberdade. Como é comum a quase todos os adolescentes, eu queria sair com meus amigos e voltar na hora que quisesse; sonhava com o dia em que eu poderia dirigir para todo lado; enfim, queria desfrutar da liberdade!
Recordo do dia em que meus amigos me disseram que eu era sortudo porque meus pais me davam muita liberdade. E sabe que era verdade?! Eu desfrutava mesmo de uma certa liberdade. Só que, naquele momento, eu não entendia o porquê. Aquilo foi outro motivo que me intrigou e me fez parar para estudar aquele fato: por que meus amigos não tinham a mesma liberdade que eu? Ao analisar minha vida daquela época, lembro-me de que sempre que saía, procurava não criar preocupações para meus pais. O propósito de mantê-los tranquilos era mais importante do que a vontade de passar horas a fio na rua com meus amigos. Porém, dentro de mim, travava-se uma luta interna de pensamentos: enquanto alguns, influenciados pelos meus amigos, queriam ficar na rua até altas horas, outros buscavam preservar a confiança dos meus pais.
Sem me deixar levar pela forma de pensar dos outros, eu escolhia voltar para casa quando sentia que já tinha me divertido o bastante e que era justo retornar, para não tirar o sono dos meus pais. Em outras palavras, eu voltava para casa na hora que eu queria, não na que os pensamentos alheios me sugeriam. Foi assim que fui conquistando a liberdade tão sonhada pelos adolescentes.
Descobri que a liberdade que devemos buscar é a liberdade de escolha. É acatar a vontade do melhor pensamento, aquele que tem o maior valor para a nossa vida, mesmo em meio a um turbilhão de pensamentos. Não se trata de receber a liberdade, mas de conquistá-la! E, para isso, é fundamental reconhecer os pensamentos que vivem em nós e que nos conduzem a uma ou outra decisão.
Concluí que ser considerado sério pelos meus colegas era, na verdade, levar a vida a sério, superar desafios, criar oportunidades e aprender com elas. Se antes eu tinha a preocupação de não me tornar ranzinza, agora não me preocupo mais, pois comprovei o que um dia li no livro Bases para a Sua Conduta, que ensina: “Cultive a seriedade em plena juventude; isso lhe permitirá, mais tarde, desfrutar dessa sã alegria que se sente quando se conseguiu vencer a tempo os pensamentos que distorcem o caminho da vida.