Inquietudes sobre o futuro

Na juventude, a incerteza do futuro é motivo da inquietude de muitos. Nós, jovens, ansiamos por saber o que nos aguarda. Natural que assim seja, pois essa é uma fase em que vivemos, fazemos escolhas e encaminhamos aspectos importantes da vida. Mas ainda há quem creia que “o que tiver que ser, será”, ou que “o futuro a Deus pertence”, ou que não é possível criarmos o nosso próprio amanhã. E essa crença causa temor ao futuro.Temor que nos paralisa e limita a prerrogativa de construirmos nossa própria vida.

Lógico é pensar que, mesmo planejando o futuro, não há como afirmar com plena certeza o que será. Mas então, como forjar o futuro que eu quero e confiar, sem temer, no que está por vir? Tenho aprendido que devo pensar e refletir sobre o que quero viver e buscar esforçar-me e empenhar-me para alcançar essa realidade. Mas é necessário fazê-lo de forma ampla, sem limitar a própria vida. Assim, o futuro pode não ser certo, mas posso confiar que vou herdar felizes resultados, se estou trabalhando hoje para isso.

A faculdade da imaginação

A imaginação sempre acompanha a reflexão sobre o que se quer viver. E nessa imagem, especialmente na juventude,é comum a profissão ocupar o centro da vida. Pode-se dizer que a principal preocupação do jovem é a incerteza de um futuro profissional promissor. Pois, muitos têm o pensamento de que,garantido o futuro na profissão, todo o restos e encaminhará na vida.

Mas,será mesmo que somente a realização profissional basta para garantir um futuro feliz? Eu tinha esse pensamento.

Estudei Medicina e, neste meio acadêmico e profissional, considera-se natural que a profissão ocupe toda a vida. Na segunda metade da graduação,comecei a refletir sobre qual seria minha especialidade e como encaminharia minha carreira.
E, influenciada pelos pensamentos mais prevalentes no meio, quis me especializar em algo que levasse muito tempo para concluir e que fosse complexo, pois disso eu imaginava que dependeria o meu sucesso –que, para mim,era sinônimo de sucesso profissional.

Ao imaginar o que queria viver, eu via uma médica muito competente, reconhecida, com altos cargos e salários, trabalhando muito e dedicando integralmente seu tempo à profissão.Essa era uma imagem que me agradava, afinal, correspondia ao arquétipo de médica que deveria ser. Eu imaginava que, fazendo isso, poderia proporcionar “tudo de bom e de melhor” à família que eu constituísse,estaria feita uma vida feliz e equilibrada, e eu estaria cumprindo os meus objetivos de vida.

Equilibrando os campos da vida

Mas, internamente, sentia-me temerosa com essa perspectiva.Eu não tinha como garantir que alcançaria aquelas realizações profissionais, e nem que “tudo de bom e de melhor” seria suficiente para uma vida familiar feliz.

Eu me perguntava:como ficam os outros aspectos da minha vida –os meus vínculos com familiares ou amigos,a maternidade, o matrimônio,a minha espiritualidade, etc. –se eu dedico tanta vida à profissão?

E então, aqueles pensamentos do meio “solucionavam”essas inquietudes, fazendo-me imaginar que,como teria sucesso na profissão, seria fácil equilibrar as outras coisas.Com isso, essas perguntas aquietavam-se no meu interno e eu seguia imaginando que bastava me preocupar com a profissão.

Durante esse período,me tornei estudante de Logosofia. E com essa ciência, aprendi que a vida é uma grande oportunidade de evolução, e que todos os seus campos me proporcionam experiências das quais posso extrair conhecimentos instrutivos ao alcance dos fins da minha existência: evoluir rumo à perfeição e constituir-me em uma verdadeira servidora da humanidade.

Eu compreendi então,que esse era o propósito que deveria buscar realizar em todos os campos da minha vida, e a profissão não é o centro, mas um desses campos, que deve servir a esses fins. Os demais campos, por sua vez, adquiriram para mim um valor muito maior, uma vez que, em todos, tenho a oportunidade de realizar o processo de evolução e colaborar para que meus semelhantes o realizem.A partir disso, comecei a pensar e refletir sobre o meu futuro de forma mais ampla.

Compreendo que, para alcançar esses fins e garantir uma vida feliz, eu devo viver e extrair o aprendizado das minhas experiências, quaisquer que sejam elas. E não basta somente me preocupar com a profissão para encaminhar meu futuro, minhas escolhas em todos os campos devem colaborar na conciliação entre eles e na construção de uma realidade que favoreça, ao máximo, minha evolução.

Hoje, a imagem do meu futuro é formada não somente por um arquétipo profissional, mas também um arquétipo de mãe, esposa, filha, irmã, mulher e, sobretudo,um arquétipo de ser humano que eu quero ser.

Refletir conscientemente sobre os aspectos da minha vida,para conciliá-los ao escolher um caminho profissional, faz o temor ao futuro dar lugar ao valor, e me faz sentir muito confiante de que o meu ser do futuro vai herdar experiências felizes provenientes dessas escolhas,e que eu experimentarei uma enorme gratidão ao meu ser do presente e a esta ciência que tanto me faz bem.