Olhos cerrados que não traduziam expressão. O filme de intensos movimentos de idas e vindas de células, que antes imprimiam vida, era interrompido pela pele pálida que representava o cenário.

A morte daquela pessoa tão querida tornou a minha terça-feira diferente. Uma chuva de perguntas me fez mergulhar dentro de mim mesmo: será que a vida significa simplesmente nascer, crescer, trabalhar, ganhar dinheiro, casar e aguardar o fúnebre momento de colher lágrimas dos seres queridos que orbitam o cenário que agora observo? Não seria possível! Deus deve ter um motivo maior para nossa existência.

O grande enigma da morte, muitas vezes, faz-nos refletir sobre o grande objetivo da vida. Porém, qual seria este objetivo?

Uma inquietude essencial

Fui a algumas palestras, assisti documentários, li vários livros. Nada foi capaz de me explicar o que me inquietava. Eu tenho certeza que você também quer saber isso, por que e para que vivemos.

Assim como numa viagem de carro em que observamos várias paisagens que vão compondo velozmente o cenário, recordo de algumas pontos que compuseram as imagens da minha vida: mudança de emprego, férias no exterior, a troca de carro, uma roupa nova, desfrutar das noites boêmias do Rio de Janeiro, etc.

Diante de todas essas imagens sobrepostas imperava o vazio. Seria eu um escravo forçado a viver fora de mim mesmo? Não estava eu percorrendo o caminho da viagem da vida como tantos o fazem? Vivia essa luta invisível aos olhos daqueles que me rodeavam, algo que só eu observava porque estava dentro de mim.

A Ciência Logosófica me apresentou um método eficaz de como responder essas e muitas outras perguntas, ao me permitir refletir sobre o simples fato de o homem ter tratado de descobrir tudo, menos o que há dentro de si mesmo.

Experimentando uma vida mais ampla

Tenho descoberto as maravilhas do meu mundo interno, que, à semelhança de um laboratório, oferece-me a oportunidade de ser o cientista da minha própria vida, estudando cada uma das experiências vividas e, com avidez e entusiasmo, buscando novos conhecimentos que esta Ciência me oferece para superá-las. Isto é tornar clara e preciosa a oportunidade de acordar todos os dias com o sopro divino para realizar a obra mais importante do Criador: conhecer a mim mesmo.

Naquele cenário onde a figura central não mais possuía a fisionomia de vida que animava o físico, reinava a substância mental que se condensava na mente e no coração de quem ficava. Ao retornar desse mergulho ao meu mundo interno, senti e compreendi que devo prolongar a existência daquele ser querido no meu coração a partir do sentimento de gratidão.

Aquela terça-feira me brindou com algumas reflexões:

  • Que recordações de feitos, obras de bem e afetos ficarão gravados de forma indelével no pensar e sentir dos demais?
  • Como venho escrevendo o livro da minha vida?
  • Que cenas e imagens o compõem?
  • Se este livro se fechasse hoje, que história ele contaria?
  • Seria o legado de um protagonista?

Seria o legado de um personagem principal ativo e construtor de seu próprio destino, ou de alguém que viveu porque sim, no automático, ausente e inconsciente de inúmeras passagens, surpreendido por páginas em branco, sem nada saber da vida e da realidade da sua natureza espiritual?