Certo dia, um amigo me enviou uma foto antiga da minha família. Era uma foto de 35 anos atrás. Nela, meus irmãos e eu ainda éramos ou crianças ou pré-adolescentes.

A minha reação inicial ao observar aquela foto poderia ser considerada de rechaço à minha aparência. Eu era uma pré-adolescente com um corte de cabelo comum para a época, nada bonito para os dias atuais; com uma roupa também antiga, a postura um pouco encurvada, a fisionomia sugerindo a intenção de expressar um sorriso forçado e sem nenhuma expressão de alegria ou simpatia.

Aquele cenário poderia, num primeiro momento, ser motivo de graça, mas, ao observá-la atentamente, fui invadida por uma imensa gratidão àquela pré-adolescente que ali estava. Tive vontade de abraçá-la, colocá-la no colo.

Hoje, após alguns anos de estudos logosóficos, consigo entender que aquela pré-adolescente, assim como a criança de antes, era realmente quieta, séria e tinha dificuldades para brincar, pois vivia internamente um turbilhão de emoções que a faziam ser daquela maneira. Ela não sabia, não entendia, mas a adulta em que se transformou consegue ver que tudo é perfeitamente explicável. Havia pensamentos aninhados na mente, com poderes que antes não conhecia e, muito menos, sabia manejar. Ali habitavam pensamentos de isolamento, tristeza, melancolia, angústia — todos sem razões evidentes; e como não tinha conhecimento sobre esse manejo a seu próprio favor, não conseguia mudar esse estado interno.

Nos dias atuais, já adulta, como não sentir gratidão àquela criança e pré-adolescente que me permitiram chegar ao ser de hoje? Uma pré-adolescente que, mesmo apresentando dificuldades, permitiu minha aproximação a uma escola que me ensina a entender o que se passa no meu interno e, consequentemente, a ser dona da minha própria vida.

Hoje, com um sorriso fácil e verdadeiro, sinto que já alcancei alguns conhecimentos que, se tivessem sido aplicados àquela época, poderiam ter transformado minha infância e pré-adolescência. Ao mesmo tempo, penso que, se aquela adolescente não tivesse encontrado essa ciência do autoconhecimento, sua vida adulta poderia ter sido muito instável e infeliz.

Nessa busca pelo autoaperfeiçoamento, tenho aprendido que a existência é infinita e que contempla várias etapas de vida; além disso, cada um de nós tem uma herança própria — a herança de si mesmo. Então, com esse esforço de modificar a mim mesma, venho formando uma herança melhor para que eu mesma a possa colher no dia a dia e no futuro.