E eles começaram a invadir as ruas das capitais brasileiras: os cabelos brancos! E não estão só nas cabeças masculinas, como é mais comum; as mulheres – mesmo as mais jovens – resolveram assumi-los. Para minha preocupação, apareceram também em mim. E agora? O que vou fazer? 

Não sou tão jovem, tampouco idosa, uma cinquentinha, digamos; mas já faz alguns anos que começaram a nascer fios brancos em minha bela e farta cabeleira castanha. Eu, que sempre amei minha cor de cabelo, passei a ver os tais fios como uma ameaça e desde então tenho feito uso de tintas para camuflá-los. 

Tudo ia bem até esse “acontecimento brasileiro”. Digo isso porque especialmente na Europa, quando os cabelos brancos começam a nascer, é comum as pessoas simplesmente os assumirem.   

  • Por que será que nas terras tupiniquins as mulheres – inclusive eu – têm tanta dificuldade em aceitar esse evento da natureza?  
  • E por que muitas de nós estão deixando de pintar os cabelos?  
  • Modismo? Resistência contra a maioria? Vontade de se libertar de uma obrigação que, às vezes, é quinzenal? 

Libertação já!

De repente, vi surgir uma profusão de depoimento de mulheres defendendo a “libertação das tintas”. E me senti questionada sobre minha posição de pintar os cabelos. O que era tranquilo para mim virou dúvida.

Um conflito entre pensamentos a favor e contra se instalou em minha mente. 

“Que horror! Cabelo branco envelhece muito a mulher!” 

“Tinta estraga o cabelo. Imagina ficar usando um produto tóxico em parte do seu corpo durante 20, 30 anos…”  

“O que os outros vão pensar de mim se eu não pintar o cabelo? Vão me achar velha…”  

“Mas um dia você não vai envelhecer? Aliás, todo mundo vai envelhecer, é inevitável!”  

“Além do mais, você não é mais novinha… já tem 50 anos! E quer fingir que tem menos? Pra quê? E até quando vai fingir?”  

E por aí vai… 

O tempo foi passando e eu sofrendo com aquele conflito. Viajei para o exterior e observei especialmente os cabelos das mulheres, assisti a incontáveis vídeos de depoimentos, conversei com algumas amigas e até pedi conselho à minha filha!  

O curso da natureza

Em determinado momento, em busca de uma solução para meu problema, pensei nas plantas que dão flores. Todas passam por um ciclo: nascem, crescem, dão flores, estas murcham e morrem. Pensei nas minhas gatinhas; tão lindas, tão cheias de energia… um dia vão ficar velhinhas e também vão morrer. E eu? Também não sou parte da natureza, da Criação? Não sigo o mesmo processo físico dos outros seres? Mesmo que eu não queira, que faça de tudo para evitar ou disfarçar, vou envelhecer e morrer, assim como eles. É lei da natureza, faz parte da vida. 

Olhei minha imagem no espelho. Os fios brancos não estavam sozinhos. Estavam acompanhados de outros sinais de envelhecimento. Não era eu no auge de minha vida física. Mas era eu, Patrícia, um ser humano com uma vida não física rica de realizações, de conquistas, de erros e acertos, de superações. Comparei mentalmente as duas imagens e me perguntei: qual vale mais? Qual a mais importante? Qual pode permanecer ou melhorar com o decorrer do tempo? 

Vida que morre e vida que não morre 

Uma ciência chamada Logosofia tem me ensinado que, como todo ser humano, não sou apenas um ser físico, sou também um espírito. E essa parte, ao contrário da outra, não morre. Meu ser físico vai se extinguir, mas os valores que adquiri, o amor e a amizade que tenho por outros seres, assim como meus esforços por me superar podem sobreviver a esse corpo.  

Como? Bem, isso é tema para outro artigo…  

Fato é que meus cabelos castanhos estão sendo substituídos por cabelos brancos. Então, que decisão tomei e como cheguei a ela? Identifiquei e refleti sobre os pensamentos que estavam me pressionando, pois queria escolher por mim mesma, já que essa é uma prerrogativa de todo ser humano. Observei outros seres vivos e refleti sobre a trajetória de suas vidas e da minha também, pensando especialmente em minha natureza espiritual.   

Por fim, analisei minha realidade e escolhi o que era melhor para mim: não lutar contra esse processo natural. E, ao mesmo tempo, cuidar dessa parte que não morre, fazendo de minha vida nesta terra algo digno de ser recordado com alegria e gratidão por meus familiares e amigos. 

Decidir por mim mesma se mantenho ou não meus cabelos brancos dá uma sensação de liberdade muito grande. E todos podem senti-la também decidindo por si mesmos, seja em relação aos cabelos brancos, seja em relação a qualquer outro acontecimento.