Temos um grande ipê rosa ao lado de nossa casa. Há alguns meses, o jardineiro avisou que precisávamos cortar alguns galhos, pois representavam um risco para a casa dos vizinhos. Olhei o tamanho da árvore e concordei com o trabalho que ele precisava realizar. Porém, várias semanas se passaram e ele não voltou mais para realizar a poda. Nesse meio-tempo, o que aconteceu?
Nosso ipê floresceu poucas vezes durante os 20 anos desde que foi plantado. E, justamente neste ano, ele floresceu lindamente! E nós, ao mesmo tempo, em função da pandemia da COVID-19, estávamos mais em casa para desfrutar daquela beleza… Eu olhava de todos os ângulos — de longe, de perto… Estava lindo! Tiramos fotos, enviamos para os filhos que estudam em outra cidade. Enfim, comemoramos aquela beleza da natureza, aquele presente!
Uma tarde, eu estava trabalhando no escritório, que fica ao lado do ipê, quando ouvi um barulho forte. Levei um susto e fui ver imediatamente o que estava acontecendo. Para minha surpresa, o jardineiro tinha cortado um dos maiores galhos do nosso ipê. Pedi que parasse e expliquei que tínhamos esperado anos para o ver florescer tão lindo assim. Ele me recordou da necessidade da poda para a segurança da casa vizinha, e de que, afinal, eu já havia concordado com o trabalho.
Claro que fiquei sentida, mas teria de ser feito.
Voltei para meu trabalho, mas fiquei com a sensação de que não estava bem. Eu estava triste pelo ipê, triste pelas flores, triste pelos filhos, que chegariam em alguns dias e não veriam o ipê como estava antes — lindo, florido!
Pedi então ao jardineiro para não jogar fora todas as flores, mas as deixar separadas. Organizei vários ramalhetes e, ao concluir meu trabalho, levei um para cada vizinho; ficamos com um em nossa casa, e levei um para minha mãe. Isso me deixou melhor, pois pude compartilhar um pouco daquela beleza que tinha nos deixado tão felizes naqueles dias!
Nos dias seguintes, a situação do corte dos galhos do ipê me fez refletir longamente sobre vários aspectos: que relação aquilo poderia ter com a minha vida? O que poderia aprender? Desta análise surgiram reflexões e conclusões que posso aplicar em minha vida, sempre que estiver atenta.
Uma delas é a seguinte: eu estava olhando para os galhos que caíram, para o ipê sem flores, e isso estava me deixando desanimada, triste. Aprendo com a Logosofia que a incompreensão é sombra, é falta de luz. O conhecimento, ao contrário, é luz: ilumina, aquece, esclarece.
Recordo do momento em que, olhando pela janela, observei a árvore e senti em meu interno uma sensação boa, de gratidão e de conforto: pensei que tivemos a oportunidade de ver as flores, de conhecer o ipê em seu vigor, lindo, rosa, repleto de vida! E se o jardineiro tivesse cortado os galhos antes de
florescer? Nós não teríamos tido a oportunidade de conhecê-lo em sua beleza plena. E, de toda forma, vários galhos com flores ainda permaneciam na árvore. Pensei que precisava olhar para as flores que ficaram e não para os galhos que caíram.
Refleti sobre isso, relacionando com alguns aspectos da minha vida: é mais fácil, às vezes, recordar de coisas que não são boas, de situações difíceis, de momentos delicados, das lutas enfrentadas ou dos desafios diários. Relacionando com o ipê, seria pensar somente nos galhos caídos. Eu posso optar por aprender, sim, com cada situação dessas, mas olhar amplamente, ver o grande. Por exemplo, o fato de ter os filhos morando longe para estudar me dá muita saudade, sinto muita falta deles. Mas posso ter um olhar maior: recordar do quanto vivemos juntos, de como é bom quando nos encontramos, que cada um está indo em busca de seus sonhos, e ficar grata e feliz por vê-los assim: bem, e lutando por seus objetivos.
Podemos transformar os desafios em oportunidade para crescer, para nos tornarmos mais fortes. E aproveitar cada momento para aprender o que pudermos.
Aprendo com a Logosofia a importância da condução consciente da vida e a analisar todos os fatos e circunstâncias que com ela se relacionam.
Tal análise, realizada serenamente, permite chegar a conclusões termitantes, que se traduzem em conhecimentos de um valor imponderável, porquanto servirão de auxiliares em atuação posteriores (…). Logosofia, Ciência e Método, p.105.