Algumas vezes já me perguntei por que alguns momentos da minha vida são tão intensos que parecem vivos e nítidos como se os estivesse vivendo novamente, mesmo após muitos anos? Em outros casos, parece que o momento vivido desaparece como uma névoa em minha recordação, mesmo quando se refere a experiências longas. Será que isso tem a ver com a minha realidade física, um lapso da memória? Tem a ver com a minha genética? Quem sabe alguma condição psicoemocional? Quem sabe a hiperatividade pela intensificação das entregas profissionais? Esta é uma questão que envolve dúvidas de todas as ordens.

Deparei recentemente com um artigo publicado no livro “Coleção da Revista Logosófica, Tomo III”, do humanista argentino Carlos Bernardo González Pecotche, que me remeteu às dúvidas em suspenso.

O autor apresenta o seguinte quadro: duas pessoas têm a mesma idade (80 anos), mas a primeira é cheia de realizações, aprendeu e ensinou muito durante sua vida, foi exemplo e é sempre citada como alguém de valor e estima para aqueles que a conhecem. Já a outra, entretanto, passou pela vida de forma estéril, sem muito valor, apenas somando os dias e anos, com pouquíssimas realizações. Qual das duas pode-se afirmar que viveu mais? Do ponto de vida físico, ambas viveram os mesmos 80 anos, mas do ponto de vista da vida interna, de aptidões adquiridas, reservas morais, mentais e espirituais, de legado à humanidade, quanto será que cada uma viveu?

Voltando então à minha questão inicial, concluo que os momentos intensos, aqueles em que vivi de forma mais consciente, guiados pelos meus anseios de aperfeiçoamento, sem abandonar os objetivos físicos, são exatamente os que contabilizam mais para minha vida interna; por isto mesmo, quando deles me recordo, surgem nítidos em minha mente e coração, independente de serem momentos felizes ou amargos!

Compreendida essa realidade que todo ser humano vive, abre-se para mim um mundo de possibilidades e, ao mesmo tempo, um grande desafio: como tornar a minha vida mais longa e proveitosa? Afinal de contas, o que parece ter o mesmo valor é o conhecimento. Quanto mais conhecimento se tem, mais se pode realizar — e em menos tempo. Isto é inquestionável.

Vejo então um grande desafio para o ser humano e que, penso, deveria ser uma meta para todos nós: ampliar o mais possível a duração da vida, não somente da vida física mas, principalmente, da vida interna. Idealmente, devo procurar viver fisicamente, por exemplo, 80 anos, mas internamente me empenhar para que esses 80 representem 100, ou, quiçá, 160 anos!