Desde criança me encanta a arte marinheira, em especial o trabalho com os nós, seja por sua parte funcional como os usados para içar cargas, quanto no aspecto estético, que podemos ver naqueles mais rebuscados que se entrelaçam ornamentando quadros forrados de feltro azul.

Provavelmente, não por mero efeito da casualidade, me capacitei para trabalhar a bordo de navios e, em determinado embarque, após o jantar, me deparei no convés com um marinheiro compenetrado finalizando um nó bastante elaborado.

Me aproximei e disse:

— Como você fez isso?

E já emendei:

— Você me ensinaria?

Ele me olhou e respondeu:

— Pega lá no paiol dois metros desse cabo.

Quando voltei, ele já estava me aguardando com o seu nó desfeito, pronto para me mostrar o passo-a-passo.

Ativei o botão da atenção e busquei acompanhá-lo a cada passada. Entretanto, faltavam em meu repertório elementos que me fizessem entender a ordem lógica daqueles movimentos.

De maneira que o esforço mental para me manter concentrado foi aumentando até que se tornou insustentável, e em vez de pedir para parar e refazer as etapas até ali, simplesmente abdiquei de tentar entender os movimentos, e passei a agir maquinalmente, apenas reproduzindo o que ele fazia, desativando inconscientemente a atenção.

Nós ainda estávamos finalizando, mas já sentia vibrar no interno uma espécie de satisfação pessoal, me auto parabenizando, como se eu tivesse abarcado com muita destreza todo aquele processo de elaboração, que antes julgava tão complexo.

Subi para o camarote entusiasmado com minha mais nova “conquista”.

Passaram-se alguns dias e fui abordado pelo mesmo marujo. Notei que em uma das mãos segurava um pedaço de cabo e em tom de desafio, ele disse:

— Faz o nó que te ensinei.

Na segunda volta eu já não tinha a menor ideia de como continuar.

— Te mostro em uma semana, disse meio desconcertado.

A opção por um prazo mais conservador não surgiu do nada; toda vez que me é demandado um esforço mental para a realização de uma tarefa, a indolência ainda atua, e quando a tarefa em questão não se trata de uma necessidade, costuma vir com mais força.

E como previsto, seis dias passaram e não tinha sequer olhado para o cabo. Com o prazo na iminência de se esgotar, peguei o cabo que estava guardado e, para minha surpresa, não me recordei sequer do primeiro movimento.

Busquei exaustivamente na memória, mas apenas a figura do nó pronto surgia. Já as etapas da elaboração não estavam acessíveis. Em quantas outras situações vividas a obstinação em chegar ao resultado não ofuscou os aprendizados que poderia ter extraído do caminho?

Se quisesse refazer aquele nó teria que buscar novamente o ensinamento.

Procurei pelo marinheiro e como que se ele já soubesse o que passara, soltou:

— Se não pratica, esquece!

Pacientemente, me ensinou de novo. Por alguma razão que eu desconhecia ele queria muito que eu aprendesse.

Desta vez registrei com fotos cada etapa. Elas fariam as vezes do ensinamento enquanto este não se tornasse um conhecimento.

Na semana que se sucedeu pratiquei diariamente. Não queria que o tempo e a energia investidos naquele aprendizado desvanecessem deixando apenas vestígios.

Quando desembarquei distribui para alguns amigos os nós que elaborei a bordo.

Depois de alguns meses, um deles me relatou que o seu bebê tornou o meu presente no mordedor preferido. Imediatamente, abri um sorriso.

Recordei-me de um ensinamento que diz que se extraímos um bem de um conhecimento, o mínimo que se pode fazer em retribuição, é conservá-lo na memória. E então brotou em mim um sentimento de gratidão por aquele perseverante marinheiro que havia me ensinado a sua arte.